É comum as pessoas acharem que as galinhas são o alimento preferido das raposas, por se tratar de um animal silvestre, bastante esperto, que vive próximo as áreas de criação. No entanto, não é bem assim.
Um estudo de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), analisou os alimentos consumidos pelas raposas e apontou que elas não são os vilões do galinheiro. A pesquisa, apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), contou, ainda, com pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Segundo Katia Gomes Facure, coordenadora do estudo, algumas pessoas preferem culpar esses animais silvestres pelo desaparecimento das aves sem nenhum fundamento científico. “Na minha opinião, essa percepção existe porque as pessoas precisam encontrar um culpado pelo desaparecimento dos animais de criação e, na maioria das vezes, preferem acreditar que são as raposas ou outros canídeos silvestres”, conta.
Para conhecer o que esses animais comem e como vivem, os pesquisadores realizaram estudos em uma área de fazendas de gado no sul de Goiás, com três espécies de “cães” silvestres: a raposa-do-campo, o cachorro-do-mato e o lobo-guará. Os pesquisadores analisaram suas fezes para detectar o tipo de alimento consumido pelos animais.
Por incrível que pareça, o principal alimento consumido pelas raposas não é nenhuma ave, mas na verdade os insetos. De acordo com o estudo, o prato predileto das raposas-do-campo são os cupins, besouros escaravelhos, gafanhotos e grilos.
Os animais também se alimentam de frutos, como goiaba, e caçam pequenos vertebrados como os roedores. Além disso, na pesquisa, não foi encontrada nenhuma evidência do consumo de galinhas, apesar dos animais, geralmente, serem criados nas fazendas da região estudada.
MAS COM ESSA ALIMENTAÇÃO, AS RAPOSAS SÃO SAUDÁVEIS?
A resposta é sim. Após sete anos de coleta de dados (2009-2015) na área foi possível alcançar um número considerável de amostras de indivíduos, o que possibilitou caracterizar a dieta de maneira adequada.
De acordo com o estudo, através da dieta diversificada, que inclui alimentos de origem vegetal e animal, as raposas conseguem obter nutrientes necessários para sobreviver e reproduzir. “Os animais coletados durante a pesquisa não apresentaram nenhum tipo de problema relacionado à má-nutrição. Pelo contrário, estavam bem de saúde, muitos com filhotes e alguns chegaram a idades avançadas”, disse Katia Gomes.
Para a pesquisadora, o estudo é importante pois torna possível conhecer melhor os hábitos alimentares das raposas-do-campo, cachorros-do-mato e dos lobos-guarás em uma área de fazendas, ou seja, ambientes constantemente modificados pelo homem. “Ao estudarmos as três espécies ao mesmo tempo e no mesmo local, também conseguimos avaliar a sobreposição existente entre elas na utilização dos recursos alimentares, fator fundamental para a compreensão de como elas convivem”, pontua.
Texto publicado originalmente no site Minas Faz Ciência Infantil. Para ler mais matérias como essa acesse aqui.