Fruto de pesquisa da UFMG, startup aplica nióbio em cosméticos

Téo Scalioni - 23-04-2021
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O nióbio se trata de um elemento químico considerado nobre, que confere propriedades especiais ao aço, tornando-o mais resistente frente à corrosão. Tanto que toda a produção de nióbio do mundo atualmente é destinada à metalurgia, e Minas Gerais, por meio da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), é responsável por 80% do mercado mundial do nióbio

No entanto, pelo fato do estado mineiro ser um polo inovador e referência em pesquisas, o nióbio recebeu outras funcionalidades além da metalurgia:  o ramo de cosméticos. A startup mineira Nanonib - Nanotecnologia e Inovação em Nióbio - desenvolveu soluções inovadoras  a base de materiais contendo nióbio com elevado valor agregado em relação aos produtos concorrentes e benefícios para o homem e meio ambiente. A startup investiu na primeira “nanoindústria” - uma unidade industrial de processamento do nanomaterial do nióbio, em Belo Horizonte - que demanda um baixo custo de produção e já pretende comercializar seus produtos ainda este ano.    

Dentre os primeiros produtos desenvolvidos pela Nanonib e, em fase de aprovação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), está o insumo que originou o INNIB41®, uma solução antisséptica com eficiência testada e comprovada em laboratórios independentes. O produto é o primeiro no mundo a utilizar nióbio na composição para esta aplicação.  “O INNIB41® já está pronto para ser lançado no mercado, aguardando a aprovação do insumo pela Anvisa e será produzido também em Minas Gerais pela Yeva Cosmétiques com sede em Itaúna”, informa o diretor executivo da Nanonib, Joel Passos. 

O INNIB41® também teve resultados positivos na desativação, limpeza e proteção das mãos contra o Sars-CoV-2, causador da Covid-19 e outras bactérias e vírus. Joel revela que o produto demonstrou elevada eficácia nos estudos laboratoriais comparativamente aos álcoois gel e líquido, porque apresenta efeito residual prolongado e protege diferentes tipos de superfícies por até 24 horas. Ele revela que o produto passou por testes clínicos, principalmente dermatológicos. “Não tem solvente como álcool, e não causa reações adversas ou prejudiciais ao ser humano, podendo ser usado em pessoas de pele sensível como crianças, adolescentes e idosos”, garante. 

De acordo com o professor Luiz Carlos Oliveira, um dos sócios da Nanonib, o grupo de pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) vinha trabalhando com materiais de nióbio há aproximadamente 15 anos, na produção de catalisadores para aplicações em processos ambientais e de energia. No entanto, o grupo de investidores, que conceberam a Nanonib, enxergou a possibilidade de uso das nanopartículas em cosméticos. “A partir daí algumas sínteses foram então direcionadas com esse viés. O grupo de investidores possuía bastante experiência em transferência de tecnologias vindo da academia na área de cosméticos”, relembra Luiz. 

Metal precioso

Luiz observa que a ideia em trabalhar o nióbio nessas finalidades veio das propriedades químicas que essas novas moléculas de nióbio que estavam sendo descobertas apresentavam. Segundo ele, a forma inovadora de obtenção das nanopartículas e os grupos funcionais químicos que eram formados permitiu as aplicações na área cosmética. “Somos a primeira empresa que utiliza os compostos de nióbio produzido comercialmente para usos distintos daqueles metalúrgicos. As diferentes moléculas que a Nanonib produz já foram testadas nas áreas de cosmético, saúde, agro e armazenamento de energia”, orgulha-se 

Luiz salienta que a Nanonib possui licença para comercializar apenas as nanopartículas. Porém, segundo ele, elas precisam ser transformadas no produto final para chegar ao consumidor. Com isso, os investidores entenderam que verticalizar o processo poderia ser mais vantajoso. Dessa forma, adquiriam uma empresa de cosméticos já atuante no mercado para produzir e comercializar o produto final que chegará ao mercado. “A empresa YevaCosmetics que está no mercado há 13 anos e com uma parceria com a Nanonib produzirá o produto final. Dessa maneira já temos como produzir comercialmente os compostos de nióbio para a área cosmética”, explica Luiz

Da academia para o mercado 

A Nanonib foi criada em 2019 com a finalidade de produzir as nanopartículas inovadora de nióbio fruto da parceria com o grupo de pesquisa coordenado pelo Prof. Luiz Carlos Oliveira da UFMG. A empresa está sediada no Parque Tecnológico de Minas Gerais (BHTEC) e já foi licenciada pelo governo estadual, que emitiu alvará sanitário. A empresa possui capacidade para produção comercial das nanopartículas de nióbio. A startup também prevê a comercialização, ainda este ano, de um clareador para os dentes com nanomateriais de nióbio, que não utiliza o peróxido de hidrogênio (a popular água oxigenada), flúor, conservantes ou corantes.