Pesquisa investiga aumento de herpes zoster durante pandemia

Tuany Alves - 27-04-2021
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Acordar, tomar banho, fazer o café, levar as crianças para a escola e ir trabalhar, essa é uma rotina que muitos estavam acostumados a realizar antes da pandemia causada pela covid-19. Contudo, com as medidas de restrições de mobilidade, essenciais para o controle e prevenção da doença, muitos tiveram de se adaptar. 

Para se ter uma ideia, o estudo ConVid Adolescentes – Pesquisa de Comportamentos coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), realizado em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mostrou que os jovens brasileiros relataram mudanças de rotina, alterações de humor e adoção de hábitos alimentares não saudáveis durante a pandemia. O que pode estar colaborando com o aumento de doenças autoimunes e condições envolvendo a saúde mental que podem ser influenciadas, na sua etiologia, pelo aspecto emocional. 

Um exemplo é a herpes zoster, doença infecciosa causada pelo mesmo vírus da catapora, que pode voltar a surgir durante a idade adulta provocando bolhas vermelhas na pele. Para entender as causas do aumento dessa doença durante a pandemia, pesquisadores da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), apoiados pela FAPEMIG, desenvolveram o estudo Increase in the number of Herpes Zoster cases in Brazil related to the COVID-19 pandemic.

Segundo o coordenador da pesquisa, professor Hercílio Martelli Júnior, o estudo avaliou a frequência dos casos clínicos de herpes zoster, em todas as macrorregiões brasileiras, comparando o período pré-pandêmico com o curso da pandemia. “Observou-se que no período que antecedeu a pandemia, tínhamos 30,2 casos de herpes zoster para cada milhão de pessoas. Durante a pandemia, este número saltou para 40,9 casos por milhão de indivíduos”, informa. 

Porém, o coordenador destaca que ainda não é possível estabelecer os mecanismos imunológicos que podem estar envolvidos nestas alterações. “Mais estudos, com outras populações e diferentes desenhos metodológicos irão ampliar a compreensão destes resultados clínicos”, destaca.

Além de Hercílio Júnior, também participaram do estudo as professoras da Unimontes Célia Maia e Daniella Martelli e o professor Luiz Fernando de Rezende. Assim como os professores Nelson Pereira Marques, da Unicamp, e Edson de Lucena, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). 

MÉTODOS E RESULTADOS 

O estudo teve como objetivo reunir informações que fossem passíveis de refletir a realidade de todas as cinco macrorregiões (Centro Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste e Sul) brasileiras. A partir disso adotou-se uma análise dos dados quantitativos, extraídos do Sistema Único de Saúde (SUS) consolidados, entre março e agosto de 2020, durante à pandemia da covid-19. “Para efeito comparativo, no mesmo período cronológico, foram adotados os dados de 2017 a 2019, período este pré-pandêmico”, informa Hercílio Júnior.

De acordo com o coordenador, a partir das avaliações realizadas, observou-se um aumento no número de casos clínicos diagnosticados de herpes zoster em todas as macrorregiões do Brasil. “Por exemplo, foi verificado este incremento dos casos de herpes zoster, variando de +23,6% no Nordeste a +77.2% na região Centro-Oeste”. No geral, o país teve um aumento de 35,4%, comparando o período de pandemia com o intervalo pré-pandêmico.

COVID E OUTRAS DOENÇAS

O estudo foi concluído e os resultados podem ser verificados de forma mais ampla aqui. Hercílio Júnior destaca, porém, que o grupo está ampliando essa linha de estudo e que estão realizando avaliações de outras doenças que podem estar sendo influenciadas pela covid-19. “Estamos observado, por exemplo, o aumento nos casos de doenças mediadas imunologicamente, como lúpus eritematoso sistêmico e a síndrome de Guillian-Barré”, informa.

O coordenador destaca que estudos importantes estão sendo conduzidos, decorrentes do intenso envolvimento da ciência neste período ímpar da história da humanidade. “Além disso, parece que teremos ainda, por um período longo, consequências nas patologias humanas decorrentes da covid-19”. Dessa forma, é grande a importância de estudo que busquem entender a ocorrência de determinadas doenças no período da pandemia, mas também pós-pandemia, “com toda certeza nos ensinará muito em termos clínicos e epidemiológico, mas também ofertará orientações no tocante à saúde coletiva”, ressalta.

SAIBA MAIS SOBRE A HERPES ZOSTER

Conhecida popularmente como cobreiro ou zona, a herpes zoster é uma doença contagiosa para aquelas pessoas que nunca tiveram catapora ou que não foram vacinadas, já que são doenças causadas pelo mesmo vírus. Contudo, diferente da varicela, a herpes zoster não é transmitida por via respiratória.

Uma das principais características do cobreiro é que a lesão não ultrapassa a metade do corpo, ou seja, a linha média que divide o corpo em duas partes: o lado direito e a lado esquerdo. Outra característica é que o vírus fica incubado no nervo e pode voltar a surgir à qualquer momento, principalmente quando há uma baixa na imunidade do sistema imunológico.


Com informações da Agência Brasil