Quarentena: os desafios do trabalho remoto

Téo Scalioni - 22-05-2020
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Em tempos de pandemia, muita coisa mudou e vai mudar no mundo. São várias as novas concepções nas quais pessoas e organizações tiveram que se adaptar para atender às exigências imposta pela quarentena. Uma delas é o trabalho remoto. Embora especialistas considerem que já se tratava de uma tendência, o processo do trabalho home office foi acelerado por conta do coronavírus em que profissionais e instituições de uma hora para outra, se viram obrigados a se adaptarem para que o trabalho não parasse. 

E essa adaptação não tem sido fácil. Diversos profissionais de Recursos Humanos  têm apontado as dificuldades que muitos colaboradores estão tendo para exercer o serviço de casa. As dificuldades vão desde técnicas, a falta de disciplina, passando pela sensação de inoperância e até mesmo na dificuldade em separar a vida profissional com a pessoal. Por outro lado, há também o lado positivo, como o não enfrentamento do trânsito (maioria das vezes caóticos nos grandes centros) e a economia gerada pelas empresas, que não precisam mais pagar vale-transporte e reduzem os custos com água, luz, aluguel, recursos materiais dentre outras despesas.        

De acordo com a psicóloga e professora de Gestão Estratégica de Recursos Humanos, Lúcia Correia Lima, o trabalho remoto trata-se de uma realidade que mexeu com a vida do colaborador e veio para ficar. Segundo ela, que também é Instrutora da Capacitação a Distância em Saúde Psíquica e Trabalho para o Centro de Estudos Avançados em Psicologia (Ciclo-Ceap), algumas pesquisas já apontam que mesmo após o fim da pandemia, cerca de 30% das atividades que se transformaram remotas durante a pandemia devem continuar remotas. “ Muitas Organizações tiveram que realizar o home office em períodos de isolamento e deverão permanecer assim”, acredita.  

Segundo ela, o trabalho remoto já é praticado por muitas empresas por algumas categorias de profissionais ao longo do tempo. No Brasil, essa transformação foi mais demorada por conta do comportamento das pessoas e a cultura das organizações que não mudam assim tão facilmente. Lúcia reforça que o avanço da tecnologia de informação e comunicação favorecem o trabalho home office. “Ajudam as pessoas a incorporarem a essas transformações tecnológicas que estão se impondo nos ambientes de trabalho”, afirma Lúcia, observando que por outro lado, para isso acontecer as organizações precisam investir e pagar pela tecnologia disponível.

Dentre as vantagens, a professora de RH verifica a possibilidade das pessoas economizarem esforços físicos, principalmente no deslocamento para o trabalho por horas exaustivas no trânsito, o que sem dúvida, gera uma maior qualidade  de vida. Lucia também vê como positivo a aquisição de mais autonomia pelos colaboradores para conduzirem os processos de trabalho. “Isso reflete na possibilidade de amadurecimento profissional. Também permite que o RH atue ainda mais de forma estratégica e menos operacional, inserindo o foco central nas pessoas”, espera ela, que vê como desvantagens uma menor interação presencial humana, uma possível precarização do trabalho e a dificuldade em separar a vida pessoal da profissional.   

Trabalho remoto FAPEMIG

Na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), os colaboradores estão realizando o serviço remoto de acordo com Decreto do Governo Estadual de 20 de março de 2020, que instituiu o teletrabalho a todos os servidores do Estado. Segundo o chefe do Departamento de Controle de Processos e Atendimento ao Pesquisador da FAPEMIG, Pedro Henrique Amorim Sá, a experiência do trabalho remoto tem sido interessante para demonstrar que é possível simplificar e digitalizar vários processos. " Um bom laboratório para pensar a simplificação do serviço público", acredita.

Segundo Pedro, por outro lado, dado o caráter emergencial de sua adoção, é perceptível que algumas das tecnologias que são utilizadas ainda não são completamente confiáveis ou estáveis. Além disso, de acordo com ele, trabalhar de casa gera, inevitavelmente, um choque entre as atividades laborais e a vida pessoal.” A principal desvantagem, que eu percebo, é a impossibilidade de interações sociais diretas e do compartilhamento de um local de trabalho coletivo”, afirma.