No ano de 2022, completam-se 113 anos do primeiro diagnóstico da doença de Chagas em humano. A FAPEMIG convida especialista para discutir os caminhos e desafios na prevenção e combate à doença.
Desde 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece o dia 14 de abril como “O Dia Mundial da Doença de Chagas”. Foi nesta data, em 1909, que Carlos Chagas diagnosticou uma menina de dois anos na cidade de Lassance, em Minas Gerais. Esse foi o primeiro caso registrado da doença acometido em humano.
A fim de destacar a data, a live FAPEMIG do mês de março terá como tema “Doença de Chagas: Negligência no controle dos barbeiros”. O evento acontecerá na próxima quarta-feira (23) às 10h. Será transmitido no perfil oficial da FAPEMIG no Instagram com a participação da bióloga, tecnologista em Saúde Pública, curadora de Vetores de Triponasomatídeos do Centro de Pesquisas René Rachou/Fiocruz, Raquel Ferreira.
CONTRIBUIÇÃO DE CARLOS CHAGAS
“A descoberta da doença de Chagas foi um grande marco para a ciência brasileira, não apenas por se tratar de uma importante endemia que viria a afetar milhões de brasileiros, e que segue sem cura, mas também pela genialidade do seu descobridor”, explica a pesquisadora. Em 1909, Carlos Chagas descobriu no intestino do barbeiro o protozoário Trypanossoma cruzi causador da doença de Chagas. Um caso raro em que um mesmo pesquisador descobriu o ciclo completo de um parasito, morfologia e sua evolução em diferentes animais infectados em laboratório.
DOENÇA NEGLIGENCIADA
A Organização Mundial da Saúde (OMS) coloca a doença de Chagas entre as 20 doenças negligenciadas existentes no mundo. Raquel Ferreira explica que doenças negligenciadas são aquelas que recebem baixos investimentos em pesquisa, produção de medicamentos, vacinas e divulgação, não atraindo tanto interesse político e social quando comparadas a outras doenças. “Ocorre uma “negligência” no conhecimento da própria população sobre essas doenças, uma vez que são menos faladas e a circulação de informações sobre elas nas mídias e redes sociais é escassa”, completa.
Os números da dimensão da doença de Chagas no Brasil podem ser inexatos. A estimativa aponta cerca de 1,4 a 3,2 milhões de pessoas, de acordo com o último inquérito sorológico amplo feito no início da década de 80. “Soma-se a isso o fato de, historicamente, o diagnóstico da doença de Chagas sempre ter sido difícil de realizar, uma vez que grande parte dos portadores do parasito, possivelmente, está na fase indeterminada da doença, ou seja, não apresenta sintomas”, adiciona Raquel.
A pesquisadora explica que a conscientização é fundamental para melhorar a taxa de diagnósticos, tratamento e cura precoces bem como a interrupção de sua transmissão. “Nesse cenário, é importante falar sobre a doença de Chagas, assim como instruir, debater, desmistificar e divulgar, favorecendo a conscientização sobre essa doença negligenciada, frequentemente diagnosticada em seus estágios mais avançados”, conclui.
CONTROLE EM MINAS GERAIS
A pesquisadora convidada coordena atualmente um estudo que propõe um protocolo para a avaliação, reativação, atualização dos postos de informação de triatomíneos (PITs) por todo o Estado de Minas Gerais. Os PITs são locais em que a população podem entregar um inseto suspeito que tenham encontrado e depois este será encaminhado para um laboratório de referência para análise.
Desta forma, será possível reestruturar a vigilância passiva da doença de Chagas no estado, identificar e combater o vetor. O projeto também visa ações de conscientização da população, divulgação dos resultados e produtos e promover capacitação voltadas aos profissionais dos PITs.
Nomeado como “Reestruturação da vigilância com participação da população no quadro atual da epidemiologia e controle da doença de Chagas em Minas Gerais”, foi aprovado na Chamada 003/2020 - Programa de Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde - PSSUS da FAPEMIG.