Repensar os ciclos de produção que envolvem plantas e animais para atender as necessidades humanas é uma tarefa de todos nós. A ciência, é claro, contribui muito para este debate. Cientistas estão ajudando produtores rurais a criar sistemas mais sustentáveis para a pecuária brasileira. Em Minas Gerais, pesquisadores da Universidade Federal de São João Del-rei (UFSJ) estudam fontes de alimentação para o gado que mantenham os animais bem nutridos e causem menos impactos ao meio ambiente: o Botão de Ouro, de nome científico Tithonia diversifolia da família das Asteraceaea.
De acordo com o Rogério Martins Maurício, coordenador da pesquisa, a planta sobrevive em solos ácidos e com poucos nutrientes (Exemplo: fósforo), além de suportar climas secos. Ela cresce em abundância e é bem aceita pelos animais. É plantada a partir de sementes ou estacas, possui alto teor de proteína e fibras de qualidade.
Rogério Maurício enfatiza que não é responsável pela descoberta desse vegetal, pois pequenos produtores da Colômbia já faziam uso do Botão de Ouro dentro de um projeto de extensão da Fundación Centro para la Investigación en Sistemas Sostenibles de Producción Agropecuaria (CIPAV). O professor tem uma parceria com essa instituição, o que permitiu o contato com o uso da planta. Ele observou que, no Brasil, a espécie nasce espontaneamente em várias regiões, até mesmo em terrenos baldios.
A equipe de pesquisa coletou a planta em várias regiões no entorno da UFSJ. Os cientistas fizeram um trabalho de prospecção para verificar variações da espécie e perceberam que havia certa uniformidade no Botão de Ouro. Eles também identificaram o momento correto de colheita para alimentação animal. Assim, seguiram a pesquisa com a plantação de um hectare da espécie, instalando no Brasil o primeiro experimento com plantio da Tithonia diversifolia para uso em alimentação de vacas.
Essa etapa contou com financiamento da FAPEMIG, apoio da Embrapa Gado de Leite – que forneceu instrumentos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Barbacena – que cedeu o terreno e as vacas, e The University of Sydney (Austrália) – que enviou um especialista em estudos sobre gás metano produzido em ambientes pecuários.
Os pesquisadores foram retirando gradativamente a ração – parte mais cara da dieta das vacas – e acrescentando o Botão de Ouro. A planta foi capaz de reduzir em 11% o uso de ração sem alterar a produção de vacas leiteiras (média de 22 litros/dia). Ademais, o vegetal apresentou alto valor nutritivo (15% de proteína). Assim, o uso do Botão de Ouro contribui não somente para reduzir custos para a produção do leite, mas também para enriquecer as opções de forrageiras ao pecuarista mineiro.
Segundo o Rogério Maurício, também ficou evidente que, mesmo usando o Botão de Ouro na nutrição animal, a composição do leite produzido era a mesma. Por fim, um ponto extremamente vantajoso do uso de Botão de Ouro: não permitiu o aumento da produção de metano, o gás que contribui com o efeito estufa e aquecimento do planeta.
Conforme o coordenador do projeto, quanto mais capim se usa para alimentar o gado, maior a produção de metano. É preciso, segundo ele, estar atento à sustentabilidade da produção. “Quero que a produção seja feita com menor quantidade de insumos, mas atentando aos problemas contemporâneos, principalmente, os efeitos das mudanças climáticas gerados no ambiente”, alerta.
Rogério Maurício afirma a urgência em despertar nos cientistas a visão para as necessidades humanas, ambientais e sociais. “Precisamos ter o olhar para a biodiversidade tropical. Temos que procurar plantas adaptadas a condições edafoclimáticas tropicais que tenham algum potencial. A pesquisa tem que ser voltada para problemas contemporâneos, como as mudanças climáticas.”, afirma. O Botão de Ouro é um bom exemplo porque a capacidade de crescer em solo com baixo teor de fósforo o faz atrativo para os pecuaristas, pois não precisariam gastar com adubo. É possível focar em mais equilíbrio entre produzir e preservar.