Os jovens se interessam por temas de ciência e tecnologia? Em quem mais confiam como fonte de informação? Reconhecem riscos e benefícios da ciência? Gostariam de seguir tal carreira? Essas são algumas perguntas que orientaram a survey nacional O que os jovens brasileiros pensam sobre ciência, tecnologia e inovação, iniciativa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT). Para entender este contexto foram ouvidas duas mil pessoas com idade entre 15 e 24 anos, residentes em todas as regiões do Brasil. Para seleção dos entrevistados, foi utilizada amostra probabilística até o penúltimo estágio, com aplicação de cotas amostrais de sexo, idade e escolaridade no último estágio. O intervalo de confiança é de 95%. As entrevistas, realizadas por equipe treinada, foram feitas em domicílio entre os meses de março e abril de 2019.
O trabalho, que envolveu também etapas cognitiva e qualitativa, é pioneiro: pela primeira vez, uma survey brasileira tem como foco os jovens e suas opiniões e atitudes sobre ciência e tecnologia. Os resultados foram apresentados no dia 24, segunda-feira, na Fiocruz/RJ e mostraram, dentre outras descobertas, que os jovens possuem, em geral, uma imagem positiva da figura do cientista e, em sua maioria, acreditam que homens e mulheres têm a mesma capacidade para ser cientista, e devem ter as mesmas oportunidades. Entretanto, a maioria dos jovens, até mesmo os que estão frequentando cursos superiores, não consegue mencionar o nome de sequer uma instituição brasileira que faça pesquisa, nem de algum(a) cientista brasileiro(a)
Os jovens manifestaram dúvidas também sobre controvérsias sociais e políticas que atravessam a ciência, hoje: 25% acreditam que vacinar as crianças pode ser perigoso; 54% concordam que os cientistas possam estar “exagerando” sobre os efeitos das mudanças climáticas; 40% dos jovens dizem não concordar com a afirmação de que os seres humanos evoluíram ao longo do tempo e descendem de outros animais. Além de opiniões e atitudes sobre ciência e tecnologia, a survey do INCT-CPCT mensurou, pela primeira vez, acesso ao conhecimento, desinformação e percepção sobre fake news. Além disso, buscou-se medir a influência das trajetórias de vida e do posicionamento moral e político dos jovens sobre as atitudes relacionadas à C&T.
Grupos focais:
Em paralelo à realização da survey, foram conduzidos grupos focais com jovens entre 18 e 24 anos, residentes nas cidades do Rio de Janeiro (RJ) e Belém (PA). A técnica de grupos focais foi selecionada para o estudo por permitir captar não apenas o que as pessoas pensam e expressam, mas também como elas pensam e o porquê. Um dos aspectos analisados foi a forma como os jovens lidam com as fake news, ou notícias falsas, em especial aquelas relacionadas à ciência e tecnologia.
Dentre os resultados, foi possível destacar:
•O estudo sinaliza uma mudança no ecossistema de informações. A informação deixa de ser “buscada” e passa a ser “encontrada”; os jovens passam a “tropeçar” em vários conteúdos e a C&T está inserida em tal cenário.
•Os jovens reclamam da dificuldade em identificar a veracidade das informações que circulam tanto na grande mídia como na internet. Relatam angústia e insegurança em relação ao que acontece no mundo: é cada vez mais difícil identificar o que é verdadeiro.
•A confiança em conseguir identificar notícias falsas depende fortemente do grau de consumo de informação científica e dos hábitos culturais (visitação a museus, participação em eventos etc.)