Respeito as diferenças

Tatiana Nepomuceno - 30-10-2018
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Certos estudiosos desconsideram o processo de produção da obra artística como ferramenta na produção de sentido da arte e da realidade social. Entretanto, existem correntes teóricas que discordam desta perspectiva e acreditam que o modo de produção, assim como o produto final, é fundamental para a produção de sentido pelo público e mudança social. Por esse motivo, o professor Alberto Tibaji, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), com o apoio da FAPEMIG, desenvolveu estudo que utiliza o espetáculo teatral na construção de sentido em relação aos direitos humanos e ao movimento LGBT+.


O trabalho consistiu na produção de espetáculos teatrais que retratam a temática e promovem discussões acerca da necessidade de aceitar e respeitar a identidade de gênero e a orientação sexual das pessoas LGBT+ na sociedade. “O teatro é um meio de reflexão sobre certos aspectos do real e um espaço que propicia o questionamento acerca dos valores herdados do passado e que devem ser superados”, cita.


De acordo com Tibaji, quase todos os espetáculos foram seguidos de debates com o público. As únicas ocasiões em que não houve discussão foram aquelas em que os administradores do espaço, por motivos organizacionais, não puderam permitir a permanência no local. A peça foi apresentada em escolas de cidades mineiras como Divinópolis, Oliveira, Sete Lagoas, Juiz de Fora e, claro, São João del-Rei. “Observamos que, em relação ao público escolar, as professoras e professores eram as pessoas que mais tinham dificuldade de conversar sobre o tema. Os alunos conversavam com mais tranquilidade e demonstravam não apenas a vontade de discutir, mas também certa curiosidade em relação a aspectos pontuais da diversidade sexual", esclarece.


O estudo também apontou que muitos professores desconhecem a legislação que trata sobre direitos da população LGBT+, desconhecem a terminologia utilizada na área e ainda pensam a relação entre orientação sexual e gênero num sentido bastante tradicional: “Se sou homem devo necessariamente me interessar por mulheres; se sou um homem homossexual necessariamente desejo ser mulher; se sou um homem trans necessariamente devo me interessar por mulheres etc. O que não pode ser visto desta maneira.”, explica.


Para mudar esse cenário, Tibaji afirma que continua realizando eventos esporádicos com escolas e com a Superintendência Regional de Educação, no intuito de esclarecer tais aspectos. “O retorno desse trabalho está sendo positivo e como resultado relevante destaco a possibilidade de trazer a discussão não para o fortalecimento das identidades de cada uma das letras da sigla LGBT+, mas sim auxiliar na compreensão de que o importante é respeitar as diferenças. Importa menos definir se tal pessoa é homossexual ou não. Importa mais saber respeitar a trajetória de cada pessoa em relação à sua sexualidade”, pontua.


O papel das artes na inclusão e igualdade entre os pares

De acordo com o pesquisador, o número de espetáculos teatrais e de filmes que tratam da temática LGBT+ tem aumentado de forma significativa nos últimos anos. Houve, também, uma mudança expressiva no modo como as personagens LGBT+ são apresentadas nas artes da cena. “Durante muito tempo, o que se via em cena eram personagens cujo sofrimento por serem LGBT+ predominava no enredo. Hoje em dia, observamos que há tramas onde as personagens são vistas em relações amorosas duradouras e felizes, com empregos dignos e aceitas pelos grupos sociais dos quais fazem parte. O desafio atual parece ser encontrar, senão um equilíbrio, ao menos uma alternância entre os dois polos apontados”, finaliza.