Todos os dias, apesar de
existirem estações de tratamento de esgoto instaladas em várias cidades,
milhões de substâncias provenientes de produtos de limpeza, higiene pessoal,
produção têxtil ou do próprio corpo humano (conhecidas como microcontaminantes)
são lançadas nos cursos d’água, poluindo os rios e podendo ocasionar doenças ou
danos à saúde. Como alternativa para romper este ciclo, a Universidade Federal de Lavras (Ufla) instalou
uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) que tem como objetivo a remoção destes microcontaminentes no ambiente. Isso posto, e para validar este processo,
pesquisadores apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
Minas Gerais (FAPEMIG) realizaram testes para avaliar a viabilidade desta estação na remoção de tais impurezas.
A pesquisadora responsável
pelo estudo, Fátima Resende Luiz Fia, da Ufla, contou que o foco inicial do
trabalho consistia na identificação de desreguladores endócrinos em águas
superficiais do município de Lavras e o desenvolvimento de adsorvedores (mecanismos
de retirada de poluentes) para a remoção nas águas de abastecimento. Contudo,
durante o curso do projeto, Fia vislumbrou outras possibilidades para a
pesquisa. “Como a Ufla possuía uma ETE que lançava o efluente tratado em um dos
cursos de água de Lavras/MG, achamos interessante avaliar também a presença de
microcontaminantes no esgoto bruto e tratado por esta”, afirma.
Durante nove meses, os
pesquisadores monitoraram essa ETE, composta por um sistema de tratamento
biológico combinado com reatores anaeróbicos e aeróbicos, seguido de cloração e
desinfecção ultravioleta, para potencializar a capacidade da estação em remover
também os microcontaminantes, evitar a contaminação do ribeirão e
consequentemente dos rios.
O resultado foi que a ETE da
Ufla removeu completamente microcontaminantes como o paracetamol, a
genfibrozila, e os hormônios estrona e estradiol. De acordo com a pesquisadora, os
anti-inflamatórios ibuprofeno, naproxeno e diclofenaco apresentaram taxas de
remoção superiores a 93%. Já para o Bisfenol A e um alquilfenol (substâncias
potencialmente cancerígenas), as taxas de remoção variaram de 59 a 94%. “Além
de satisfatória, a pesquisa constatou a viabilidade do processo, o que
possibilita que outras instituições e cidades possam utilizar a ETE/Ufla como
modelo para alcançar níveis de remoção de compostos tanto tradicionais como de
microcontaminantes.”, explica. “Uma alternativa para que, no futuro, nossos
rios contaminados com estes poluentes fiquem livres de qualquer agente
químico”, finaliza.