A ordem é experimentar

Tatiana Nepomuceno - 27-02-2018
5660

Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), coordenados por Maria Inês Goulart, investigaram as formas de participação de crianças entre 3 e 5 anos nos processos educativos na Unidade Municipal de Educação Infantil (Umei) Silva Lobo, em Belo Horizonte. O projeto, que teve o apoio da FAPEMIG, analisou as práticas pedagógicas que ocorrem nestes ambientes e identificou nelas a participação da criança não apenas como receptora de informações, mas também como agente ativo que experimenta e vivencia as propostas feitas pelas professoras. “A ideia foi estimular e apoiar as investigações que as próprias crianças fazem, movidas por sua curiosidade, e transformá-las em práticas que possam gerar conhecimento próprio e seguir o fluxo de suas próprias ações”, explica.


Para tanto, a equipe dividiu o trabalho em duas etapas. Na primeira, o grupo fez um mapeamento das rotinas das crianças. “Dirigíamo-nos para a sala que seria observada e filmávamos toda a dinâmica do dia, desde a entrada até a saída. Depois de realizado o mapeamento nessas turmas, passamos para a segunda etapa”, conta Goulart. Na sequência, foi criada uma dinâmica diferente e o grupo reunia-se para discutir sobre o que havia sido trabalhado com as crianças nas semanas precedentes e para criar novas práticas educativas, aqui inclusas atividades fora da sala de aula e da escola. “Visitas a museus, aquários e outros espaços da cidade estavam no roteiro. Com isso, foi possível ir além das explicações convencionais, que veem a aprendizagem como um processo mental”, explica.


Como exemplo, Goulart cita um episódio que ocorreu durante o estudo das pinturas rupestres. Ao inserir conceitos desta manifestação artística histórica, o grupo observou que o que chamou a atenção das crianças não foram as pinturas e sim o homem das cavernas e isso redimensionou a proposta de trabalho. “Como eles faziam para cuidar dos machucados se não havia band-aid? Como tomavam banho e escovavam os dentes? Estes foram alguns dos questionamento feitos pelas crianças, durante as práticas”, pontua.


Esse primeiro desvio traz, para a cena, a valorização da voz dos alunos e aponta um distanciamento em função da questão temporal ao assimilar conteúdo. “Elas não compreendiam como a humanidade sabia tanto sobre os homens das cavernas, uma vez que nenhum de nós viveu esse tempo”, pontua. Para estreitar esses laços e trazer para a realidade das crianças o conceito de História, os pesquisadores criaram uma dinâmica que recria o ambiente e os hábitos de vida do homem das cavernas.


Para isso, foi mobilizada uma turma de alunos que brincaram no bosque, no dia anterior, e deixaram, propositalmente, objetos e brinquedos como pistas para serem investigadas. No dia seguinte, os alunos foram separados em duplas para proceder à investigação na mata. Foram dadas instruções básicas de como elas deveriam manusear as pistas encontradas, relacionando a prática com o trabalho dos cientistas.


As crianças classificaram as pistas e aprenderam sobre os homens da caverna, visitaram museus e construíram uma gruta, onde deixaram as marcas de suas próprias histórias pintadas nas paredes de papelão. “Com isso, observamos que a aprendizagem não é simplesmente uma aquisição conceitual ou de esquemas mentais, mas que é possível, graças à habilidade das crianças de serem afetadas pelas pessoas e materiais, criar um ambiente propício para definir novos caminhos para a educação infantil”, finaliza.


Equipe multifocal

A pesquisa desenvolveu-se em parceria com o Grupo de Estudos Integrados, liderados pelas professoras Isabel de Oliveira e Silva e Iza Rodrigues da Luz, que, assim como Maria Inês Goulart, fazem parte do Núcleo de Estudos e Pesquisas Infância e Educação Infantil (Nepei), da Fae/UFMG. Participaram também do projeto o grupo de pesquisas Processos e Relações na Produção e Circulação do Conhecimento, coordenado pelo professor Francisco Ângelo Coutinho, estudantes de graduação, pós-graduação e professoras da Umei Silva Lobo.