Mulheres na ciência em Minas Gerais

Assessoria de Comunicação / FAPEMIG - 08-03-2021
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oje (08) é celebrado o Dia Internacional da Mulher, uma data que simboliza a luta histórica das mulheres para terem suas condições equiparadas às dos homens. Oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU) na década de 1970, a data inicialmente remetia à reivindicação por igualdade salarial. Contudo, atualmente, se tornou um momento de reflexão e de luta em todas as instancias da vida das mulheres, inclusive em sua colocação no mundo das ciências

Diante disso, a FAPEMIG, como agência de fomento à ciência, tecnologia e inovação do Estado, tem atuado para promover a pluralidade e inclusão das mulheres cientistas. Segundo o presidente da Fundação, Paulo Beirão, “A História mostra que a nossa sociedade tem dado poucas oportunidades às mulheres nas atividades de pesquisa. Por outro lado, a mesma História mostra que, mesmo assim, elas deram inúmeras e muito importantes contribuições ao desenvolvimento científico, e que nada justifica a discriminação”, conta. 

Para ele, isso mostra o quanto estamos prejudicando a própria sociedade ao limitar essas oportunidades. “A FAPEMIG pode se orgulhar de não criar esses obstáculos. Em um levantamento dos beneficiários da FAPEMIG nos últimos 11 anos, a participação feminina tem sido muito significativa e crescente”, destaca.

MULHERES FAZEM CIÊNCIA

Os números apontam que, entre 2010 e 2020, a FAPEMIG beneficiou 64.067 pesquisadores, dentre coordenadores de projetos, membros de equipe e bolsistas. Destes, 52,4% eram homens e 47,6%, mulheres. Observa-se, porém, que quando destacamos apenas coordenadores de projetos, a proporção se altera para 65% homens e 35%, mulheres. Isso mostra que a diferença entre sexos é maior quando olhamos para posições de coordenação.

Ana Carolina Barbosa, professora do departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Lavras (Ufla), está entre as mulheres que ocupam uma posição de coordenação em um projeto financiado pela FAPEMIG. Apaixonada pela dendrocronologia – análise de marcas nos troncos associadas aos ciclos climáticos – e as possibilidades que se manifestam a partir de tal ciência, ela investigou a reconstrução do clima da Amazônia, a partir de anéis de crescimento de árvores.

Barbosa também montou o primeiro laboratório de dendrocronologia de Minas Gerais em 2012. Porém, suas pesquisas sobre a reconstrução do clima a partir de anéis de crescimento de árvores não ficaram restritas à bacia amazônica. Em 2018, Gabriel Assis Pereira, bolsista da FAPEMIG, sob orientação de Ana Carolina Barbosa, desenvolveu, em sua tese de doutorado, duas cronologias que informam sobre o clima do Norte de Minas Gerais

No estudo, analisou-se a espécie Cedrela fissilis, conhecida como Acaiacá, em região com clima bastante diferente da Amazônia: a bacia do rio São Francisco, ou, mais especificamente, a área de Itacarambi, Januária e Juvenília. Em contraste com a elevada umidade da bacia Amazônica, essa região se encontra no limite sul do “polígono das secas”.

Para a realização do estudo, os pesquisadores montaram a cronologia de larguras de anéis e fizeram a correlação climática. Com isso, eles descobriram que essa espécie responde bem ao regime de chuvas da região. Isso quer dizer que, no ano em que chove mais, as árvores formam um anel mais largo. Já em tempo de seca, ele é mais estreito. 

A partir dessa informação a dupla conseguiu reconstruir as informações sobre o regime de chuvas até 1842. Até então, só havia índices a partir da década de 50. Saiba mais sobre os estudos na edição 84 da Revista Minas Faz Ciência

ONDE ESTÃO AS CIENTISTAS MINEIRAS?

Uma boa notícia: em relação as áreas do conhecimento, a diferença na proporção entre homens e mulheres beneficiados pela FAPEMIG caiu. Em 2010, elas não eram maioria em nenhuma das áreas de pesquisa, sendo que a maior diferença era no campo das Ciências Exatas, no qual as mulheres representavam apenas 18% do total de beneficiados. 

Em 2020, esse cenário mudou e elas se tornaram maioria no campo das Ciências da Saúde (52%). Esse é o caso de Maria Clara Fernandes da Silva Malta, pesquisadora do Núcleo de Inovação Tecnológica da Fundação Hemominas, que coordenada o projeto que desenvolve uma estratégia, baseada em Biologia Molecular, para triar doadores com fenótipos raros.

Segundo Malta, a definição de “doador raro” difere conforme o banco de sangue. A maioria os divide, porém, em duas categorias: indivíduos com ausência de determinado antígeno de alta frequência na população ou negativos para múltiplos antígenos comuns. “Devido à raridade dos fenótipos, e ao alto valor dos testes necessários para sua detecção, é importante que os bancos de sangue busquem estratégias para identificar doadores raros”, informa. 

Dessa forma, o novo método proposto por Malta permite economizar tempo e recursos, uma vez que os testes são feitos em conjuntos de cinco amostras. “Quando um deles apresenta resultado positivo, as amostras que o compõem são avaliadas individualmente, para que se identifique o portador da variante rara”, destaca. 

A coordenadora conta, ainda, que nem sempre existem reagentes comercialmente disponíveis para caracterização de fenótipos raros. “Dessa forma, como os antígenos são determinados geneticamente, é possível caracterizar os doadores e pacientes a partir da análise genética”, ressalta.

Outro exemplo, é Andréia Queiroz Ribeiro, professora e pesquisadora do departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Ribeiro coordenou um estudo que investigou a relação entre distribuição da obesidade e fatores individuais e ambientais relativos à população idosa de Viçosa, em Minas Gerais.

Segundo a coordenadora, assim como em outros tantos países, o Brasil convive com o aumento da expectativa de vida, devido à melhoria geral das condições de saúde. Porém, um problema recorrente, mas muito ignorado, é o ambiente onde vivem os idosos. “O processo de envelhecimento faz com que as pessoas dependam, cada vez mais, de sua vizinhança, o que se revela um desafio para o setor público, na hora de promover ambientes saudáveis, com melhores oportunidades de saúde e lazer aos idosos”, informa. 

O estudo analisou, ainda, a capacidade funcional e o consumo alimentar de tal grupo no município, que conta com cerca de 80 mil habitantes e fica na Zona da Mata mineira. Saiba mais aqui.


Sobre a presença das mulheres por áreas de pesquisa, cabe destacar que a maior diferença encontrada é nas Engenharias. Na qual elas representam 26% dos beneficiados pela FAPEMIG.

MULHERES NA INOVAÇÃO

A cerca de sete horas de distância de Viçosa, na cidade de Itajubá, região Sul de Minas Gerais, Juliana Caminha Noronha também atua desenvolvendo pesquisas com o apoio da FAPEMIG. Porém, na área de inovação.

Com o objetivo de desenvolver projetos com recursos naturais Noronha, diretora de Empreendedorismo e Inovação da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), se uniu ao grupo Cheetah E-Racing para desenvolver o CE-19, um carro elétrico que compete em disputas de Fórmula SAE Brasil, uma das maiores competições de engenharia do planeta. 

O carro elétrico foi desenvolvido usando o software de desenho paramétrico Solidworks, que permite uma montagem visual com tudo que estará presente em sua montagem física. Na construção do carro foram usados materiais, como ligas de alumínio aeronáutico, aço, fibra de carbono, vidro e aramida. “O CE-19 foi desenvolvido para ser elétrico, contudo, já estamos pensando em carros autônomos e em evoluir o protótipo para que ele se torne mais tecnológico”, informa Noronha.

A invenção já recebeu alguns prêmios, como o 2º lugar Presentation 2016, além de serem agraciados como o 1° lugar Presentation 2017 e 2° lugar manufatura 2017, ambos na Fórmula SAE Brasil.

MULHERES NA PANDEMIA

Foto: Acervo do pesquisador

O conhecimento científico tem guiado diferentes frentes no combate ao coronavírus no Brasil e no mundo. São inúmeros estudos, de diversas áreas com dados e resultados, que impactam a sociedade. Nesse cenário, a detecção rápida, barata e acessível do vírus continua sendo uma importante forma de inibir a circulação da covid-19, assim como de suas variantes.

Pensando nisso uma equipe de pesquisadores do Centro de Tecnologia em Nanomateriais (CT Nano / UFMG), apoiada pela FAPEMIG, está desenvolvendo uma plataforma portátil para identificar o vírus de forma mais rápida e barata. Segundo Lívia Siman, pesquisadora do Departamento de Física da UFMG e membro da equipe, a Plataforma Portátil de Biodiagnostico (PPB) é baseada em dois elementos: nanosensores de ouro e um leitor ótico

Os nanosensores são fabricados pela equipe, que também os preparam de acordo com a molécula alvo de interesse. “Por exemplo, decoramos essas nanopartículas de ouro com uma proteína produzida no CT Vacinas, que é reconhecida por um anticorpo que é gerado em resposta à infecção da covid-19”, explica. Siman conta, ainda, que esse tipo de diagnóstico é chamado de sorológico, pois utiliza o sangue do paciente para fazer a pesquisa de anticorpos. 

Além dele, a equipe também trabalha em um detector para identificar o material genético da Covid. A pesquisadora conta que nessa frente também é usado o sensor de ouro, porém, nesse caso, os bastões são decorados com uma sequência de material genético que é capaz de reconhecer a sequência genética do coronavírus. “É um diagnóstico molecular onde procuramos material genético, não mais pelo sangue, e compete com exames como PCR”, informa.

Saiba mais sobre o estudo aqui.

CIÊNCIA E MATERNIDADE

Além da presença e reconhecimento no âmbito acadêmico, outra pauta emblemática é a maternidade e o chamado “buraco no Lattes”. O assunto vem ganhando dimensão, principalmente, após o surgimento do projeto Parent in Science.

Fundado em 2016, o grupo surgiu a partir da experiência da pesquisadora Fernanda Staniscuaski com a maternidade. Na ocasião, ela era mãe de dois filhos e estava grávida do seu terceiro e optou por exercer, em suas palavras, uma “maternidade com dedicação exclusiva”. 

Como o marido também é professor universitário, passados os seis meses de licença-maternidade, os dois se dividiram no cuidado com os filhos e se revezaram enquanto cada um precisava sair para dar aula. Com isso, a pesquisadora manteve as atividades docentes, mas deixou o laboratório em segundo plano, o que fez com que sua produção científica caísse, ocasionando um “buraco" em seu currículo Lattes.  

No período, a pesquisadora buscou na literatura sobre o assunto e não encontrou nenhum estudo sobre maternidade e ciência no Brasil. O que a motivou a criar o grupo que reúne homens, mas principalmente, mulheres para falar sobre o assunto. 

Confira a entrevista com Fernanda Staniscuaski no episódio oito “Ciência e Maternidade” do podcast Ondas da Ciência especial Trajetórias da parentalidade, do Minas Faz Ciência