A dificuldade de se converter ciência e tecnologia em inovação no Brasil foi destacada em audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Econômico da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quarta-feira (24). A FAPEMIG participou do debate, que reuniu deputados e gestores da área de CT&I.
Segundo a presidente da Rede Mineira de Inovação, Adriana Ferreira de Faria, inovar é muito difícil. “Esse não é um privilégio do Brasil, mas estamos 30 anos atrasados”, enfatizou. Para ela, a situação se torna mais grave quando refletimos sobre todo o potencial do País e a relevância da sua economia. Ela salientou, ainda, que o Brasil ocupava a 62ª posição no ranking mundial de inovação no ano passado, resultado pior do que o de 2012, quando estava na 42º posição. “Não avançamos na inovação, que é a capitalização do conhecimento”, disse.
Em sua opinião, é necessário que se amplie a interação entre universidades, empresas e governos. Ela acrescentou: “Precisamos de um marco regulatório, um ambiente seguro. Precisamos também de investimento prioritariamente público, como em todo o mundo, e perene, o que é difícil. Não podemos depender de políticas de governo e não de estado”, reforçou.
O presidente da FAPEMIG, Paulo Sérgio Lacerda Beirão, acredita que o grande desafio em Minas é fazer uma reconfiguração de modo que a ciência, a tecnologia e a inovação se tornem estruturantes para o desenvolvimento econômico. “Não estou falando de abandonar a mineração e agricultura de commodities, mas de agregar valor a isso”, defendeu.
O presidente da FAPEMIG, Paulo Beirão, participou do debate na ALMG. Foto: Ricardo Barbosa/ALMG
Desafios
Analista de Inovação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-MG), Carla Batista Ribeiro, também disse que é preciso ampliar conexões com empresas, governos e também fora do País. “Precisamos de uma estratégia para que o Estado seja atrativo. Criar uma lei é um importante movimento. Ela nos dá segurança jurídica. Mas precisamos ir além e conquistar também um pacto de inovação em Minas Gerais”, defendeu.
Ex-prefeito de Uberaba (Triângulo Mineiro) e idealizador do Parque Tecnológico de Uberaba, Paulo Piau, salientou que o conhecimento é a grande moeda do mundo e que o Brasil precisa avançar nesse aspecto de forma que o “fosso” que o separa dos países desenvolvidos não aumente ainda mais. “O Brasil como um todo é um fracasso nesse aspecto. Há exemplos de países que conseguiram avançar em ciência, tecnologia e inovação, gerando desenvolvimento econômico, emprego e renda para suas populações”, comentou.
Em sua opinião, apesar disso, não faltam talentos no Brasil. “Somos dos países que mais produzem e, em termos de inovação, estamos lá atrás. Falta foco na pesquisa e também na ação”, refletiu.
Legislação inovadora
Professora de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenadora do Observatório para Qualidade da Lei e do Laboratório de Legislação e Políticas Públicas (Legislab), Fabiana de Menezes Soares enfatizou que, ao legislar sobre o tema, também é preciso inovar, trazendo algum tipo de instrumentalidade para avaliar essa política que é tão importante.
De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria de Software e da Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais (Sindinfor), Fábio Veras de Souza, as empresas de tecnologia são as grandes responsáveis pelo Produto Interno Bruto (PIB) de grandes potências, o que aconteceu nos últimos 15 anos. “Essa janela curta no ciclo de transformação nos mostra que o país que não se apropriar disso vai ficar para trás”, afirmou.
O subsecretário de Ciência, Tecnologia e Inovação da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Felipe Attiê, fez uma apresentação sobre os investimentos do governo estadual na área. Ele enfatizou que o objetivo é aplicar a ciência e a tecnologia na vida prática das famílias e das empresas mineiras.
Felipe Attiê salientou o papel do Centro Nacional de Vacinas, uma parceria do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que tem o objetivo de promover a independência de tecnologia na produção de lotes-piloto de vacinas e testes de diagnóstico para doenças humanas e veterinárias como malária, leishmaniose, zika, dengue e Covid-19. Para tal, foram investidos cerca de R$ 80 milhões, dos quais 30 milhões do Governo de Minas e R$ 50 milhões do governo federal.
Outra iniciativa, conforme o subsecretário, é o Tecpop Minas, um programa de disponibilização de notebooks e de cursos tecnológicos gratuitos para a capacitação profissional de cidadãos, empreendedores e prefeituras que desejam utilizar o portal web do projeto para potencializar a política de inclusão digital e capacitação profissional no âmbito municipal.
Por meio dele, 100 municípios mineiros com até 110 mil habitantes serão beneficiados, 2 mil notebooks serão distribuídos e será possibilitado o acesso à plataforma on-line com cursos de profissões do futuro em parceria com instituições. “Queremos ser o Estado programador desse País”, afirmou.
Deputados abordam ações da ALMG
O deputado Antonio Carlos Arantes (PSDB), que solicitou a reunião, abordou o Projeto de Lei (PL) 5.381/18, de sua autoria, que dispõe sobre as Políticas Públicas Estaduais de Ciência, Tecnologia e Inovação de Minas Gerais e estabelece normas gerais para os municípios mineiros.
De acordo com ele, a matéria, que aguarda parecer na Comissão de Desenvolvimento Econômico, tem o objetivo de levar ciência e inovação aos municípios mineiros de forma desburocratizada.
O deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), que presidiu a reunião, salientou a relevância de outro projeto também nesse sentido. O PL 3.578/16, de autoria conjunta dele e Antonio Carlos Arantes, foi transformado na Lei 23.793, de 2021, que dispõe sobre a política estadual de estímulo, incentivo e promoção ao desenvolvimento local de startups.
Já o deputado Bernardo Mucida (PSB) enfatizou os esforços do governo para se obter avanços em inovação e destacou que defende que o Estado mude sua pauta econômica, para além da exportação de commodities.
Com informações da ALMG