Adolescentes e redes sociais: influência nas relações

Júlia Rodrigues - 12-07-2023
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De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), considera-se adolescente aqueles entre 12 e 18 anos de idade. Para a psicologia trata-se de um tempo (psíquico e sociocultural da puberdade) em que o indivíduo vive suas primeiras experiências afetivo-sexuais, que participam na organização de sua vida e construção subjetiva. A maneira com que estes jovens estabelecem as suas relações com o advento da internet motivou a pesquisa nomeada “Relacionamentos Amorosos de Adolescentes e a internet” que teve apoio da FAPEMIG por meio da chamada 01/2013 - Demanda Universal

A pesquisa qualitativa partiu de entrevistas com estudantes de 18 anos do primeiro período de cursos da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e buscou investigar se a internet introduz novas formas de relacionamento afetivo entre adolescentes, as motivações que os levam a buscarem parceiros amorosos na internet; e, analisou se a internet introduz uma nova forma de amar ou reproduz as já existentes.   

PÚBLICO X PRIVADO 

A professora Márcia Stengel do Programa de Pós-Graduação de Psicologia da PUC Minas e especialista em temas como adolescência, juventude, família, relações afetivas, virtualidade, redes sociais virtuais e gênero, coordenou o projeto. Segundo ela, os relacionamentos na internet, protagonizados por adolescentes ou não, precisam lidar constantemente com a exposição

Professora Márcia Stengel. Créditos: Arquivo pessoal

“Nós temos publicizado a nossa vida privada na internet. Então, coisas que eram consideradas mais íntimas e privadas, como os relacionamentos amorosos, que antes eu contava para os meus amigos ou para a minha família, agora tendem a ficar públicas. [...] A fronteira entre o público e o privado fica, como eu gosto de dizer, borrada”, conta Stengel. 

O adolescente que anteriormente escolhia para quem contar sobre a sua vida privada, com as redes sociais, torna tudo isso acessível para qualquer um. “Por exemplo, se um casal briga, o que antes ficava no privado, passa a ser público. Se eu postava fotos do namorado e de repente não tem mais, as pessoas podem dizer: "Ah lá! Brigou", exemplifica.  

Contudo, Stengel aponta que em pesquisas mais recentes observou-se que tanto entre as meninas, quanto os meninos entrevistados, fotos, mensagens carinhosas e declarações de amor podem ser postadas, mas as brigas não. Trata-se de um tipo de “etiqueta digital” que define o que deve ou não ser postado e motiva discussões entre os casais. "Tenho visto brigas entre namorados em que um diz "eu coloquei nas minhas redes sociais que estou namorando com você, mas você não colocou na sua", ou então, questionam "eu coloco fotos nossas e você não", conta. 

LUTO PELO CORPO 

A ausência física do corpo nas relações mediadas pela internet é vista como uma vantagem para os adolescentes. Stengel explica que nesta fase o indivíduo passa por uma espécie de luto pelo corpo infantil que ele deixa de ter. "À medida que estou compreendendo e aceitando o meu corpo e vivendo as questões da sexualidade e tendo que me a ver com ela, se eu não estou em contato com o outro, corpo a corpo, eu ganho tempo para me entender melhor", explica. 

Neste momento, o jovem pode postergar as inseguranças e incertezas em relação à descoberta da sua sexualidade. “Ele se protege psicologicamente até que ele dê conta de encarar, tendo a oportunidade de postergar o encontro propriamente dito”. 

POSTO, LOGO EXISTO 

Para Stengel, as redes sociais são guiadas pela lógica do “Posto, logo existo”. A brincadeira com a frase famosa de Descartes, “Penso, logo existo” se refere à constante necessidade de postar nas redes sociais como forma de se afirmar e validar diante dos seus seguidores. "Se a gente não aparece, não posta, é como se a gente não existisse [...] Uma viagem que faço, mas que não posto é como se eu não tivesse viajado”, explica. 

As redes sociais têm efeitos subjetivos em cada pessoa, que passa a se autoafirmar de acordo com as curtidas e comentários dos seus seguidores. Stengel explica que em relação aos adolescentes, eles são especialmente potencializados. "Temos observado muitos relatos de adolescentes com baixa autoestima e/ou depressão por conta das redes sociais", conta Stengel. “Uma crítica feita para um adolescente tem um impacto maior, em modo geral, do que para um adulto. Ele precisa mais da aceitação do outro", conta.