Causado pela produção insuficiente ou má absorção de insulina, o diabetes é uma doença silenciosa que pode se tornar mortal. No Brasil, cerca de 17 milhões de pessoas, entre 20 e 79 anos, possuem a doença, segundo a nona edição do Atlas do Diabetes. O levantamento, produzido pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) e publicado este ano, aponta ainda que cerca de 95.800 crianças e adolescentes menores de 20 anos brasileiros são diabéticos.
Além das restrições essa população enfrenta ainda um problema muito comum, o ‘pé diabético’. Segundo a pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG) Eliene Muro, o ‘pé diabético’ – uma das complicações mais frequentes do diabetes – ocorre quando a glicose (açúcar no sangue) está alta.
A mestranda explica que a glicose começa a danificar os nervos periféricos causando um problema chamado neuropatia diabética. “Quando a pessoa já tem outras alterações nos membros inferiores, como: problemas vasculares, calos, micoses, rachaduras, isso pode fazer com que apareça feridas nos pés que podem levar a amputação”, informa.
O ‘pé diabético’ está associado ao aumento da morbidade, mortalidade e custos para os pacientes, suas famílias e sociedade. Porém, uma avaliação rotineira dos pés pode garantir a intervenção precoce do problema evitando o surgimento das lesões.
Ciente disso, Muro junto a um grupo de pesquisadores da Unifal-MG, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais (IFsuldeminas), desenvolveu o aplicativo ‘Cuidando do pé’. O software ajuda profissionais da saúde (enfermeiros, médicos, fisioterapeutas etc.) a identificar os sinais da doença, prevenindo a complicação. “É um método de avaliação dos pés que permite a realização de um exame detalhado de forma mais fácil. Por meio dele é possível que mais pessoas tenham seus pés avaliados, identificando os sinais da doença”, explica a pesquisadora Érika Chaves.
Além de Eliene Muro e Érika Chaves, participaram da pesquisa, as professoras Denise Hollanda Iunes, Juliana Bassalobre Carvalho Borges. O estudo contou ainda com o mestrando Ismael Muro e a acadêmica de Iniciação científica Ana Angélica Sepulvedra Godoy Munhoz.
De acordo com Ismael Muro, o grupo já vinha estudando a temática Diabetes Mellitus e ‘pé diabético’ há algum tempo. “Observamos que diversos estudos demonstram a importância de avaliar os pés das pessoas com Diabetes Mellitus para evitar o desenvolvimento dessa complicação”.
Outro problema encontrado pelos pesquisadores foi a quantidade de profissionais que não realizam a avaliação dos pés devido à falta de instrumento adequado para guiá-los. “Percebemos, assim, a necessidade de criar uma ferramenta de avaliação dos pés para guiar esses profissionais. No entanto, ele precisaria ser fácil de manusear, não tomar muito tempo do avaliador, além de possibilitar um exame detalhado e eficaz”, destaca Érika Chaves.
O grupo lembra que a partir disso surgiu a ideia de usar a tecnologia para tornar isso possível. “Hoje, os aplicativos em celulares e tablets estão sendo muito utilizados nos serviços de saúde, favorecendo o diagnóstico e o tratamento de doenças, como também facilitando o armazenamento dos dados das pessoas e permitindo o acesso rápido dessas informações pelos profissionais de saúde”, informa Eliene Muro.
A partir dessa decisão os pesquisadores realizaram duas etapas distintas: produção e teste. Para o desenvolvimento do aplicativo os pesquisadores selecionaram as informações necessárias para realizar a avaliação dos pés e as colocaram em formato de aplicativo, por meio de um programa próprio para isso. Após a criação do software, o app passou por uma avaliação de profissionais especialistas na área de saúde e informática. Só depois de ser aprovado totalmente por eles é que o aplicativo foi experimentado na identificação do risco do 'pé diabético'.
O aplicativo funciona em etapas que o profissional de saúde deve seguir. Ao abrir o app em um celular, clicando no ícone 'Pé diabético', aparecerá a tela de apresentação com instruções de uso. “Logo no cantinho de baixo dessa tela, está escrito avançar, e toda vez que clicar nesse botão avançar vai para uma nova tela. Cada tela seguinte irá direcionar o profissional no que ele terá que perguntar ou avaliar no paciente”, informa Ismael Muro.
Ao final da avaliação, na última tela, o próprio aplicativo classifica o risco de o paciente desenvolver o ‘pé diabético’ e emite o laudo com todos os resultados referentes à avaliação. “Nesse laudo contém a classificação do risco que varia de 0 (baixo) a 3 (muito alto), as alterações encontradas que determinam esse risco, as recomendações e a frequência da avaliação que determina o tempo que o paciente deverá ser novamente avaliado”, conta Érika Chaves.
No final, o aplicativo apresenta ainda as condutas a serem tomadas pelo profissional de acordo com o diagnóstico. Além disso, é possível enviar o laudo por e-mail.
O aplicativo foi registrado junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (inpi), gerido pela Agência de Inovação e Empreendedorismo da Unifal-MG, IFsuldeminas e FAPEMIG, porém ainda não se encontra disponível para download. “Em breve ele será publicado no Play Store, a loja de aplicativo da Google, e assim todas as pessoas com celulares Android poderão acessá-lo”, informa o grupo.