Deliberações e Ordem de Serviço
Deliberações do Conselho Curador e Ordens de Serviço da FAPEMIG.

Deliberações do Conselho Curador e Ordens de Serviço da FAPEMIG.
Originário da bacia do Rio Amazonas, o cacau é um fruto típico das regiões mais próximas dos trópicos da América do Sul. Levantamento da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) já identificou, em solo mineiro, 480 hectares ocupados com plantações de cacau e uma produção anual estimada em 161 toneladas.
Os dados apontam que a produção está concentrada no Norte de Minas, com destaque para Janaúba (120 hectares), Bandeira (64 hectares) e Matias Cardoso (25 hectares). A Emater-MG esclarece que estes números podem ser maiores, pois novas áreas ainda deverão ser identificadas.
A região de clima seco, altas temperaturas e pouca chuva tornou-se terra fértil para o cultivo do cacau com apoio de pesquisas científicas desenvolvidas na Universidade Estadual de Minas Gerais (Unimontes), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

Para o engenheiro agrônomo e especialista em Fitotecnia da Unimontes, Victor Martins Maia, estamos presenciando a consolidação de um polo de produção de cacau irrigado no Norte do Estado e que pode se estender para além do semiárido, incluindo as regiões de Cerrado.
Para o pesquisador, a crescente coloca Minas Gerais na rota do mercado internacional. Segundo Maia, “esses números devem chegar em 2026 a três mil hectares plantados e, para os próximos dez anos, devem superar dez mil hectares plantados”, projeta.
“A indústria mundial busca locais que tenham estabilidade e capacidade de fornecer cacau para a indústria. Não, por coincidência, o Brasil tem a possibilidade de crescer com produtividade e tecnologia e atender a demanda mundial. É uma oportunidade e vai acontecer”, acredita.
Altas temperaturas e baixa humidade podem ser condições propícias para cultivo do cacau desde que apresentem cuidados específicos como a irrigação. A produção do cacau no Norte de Minas Gerais é possibilitada pela técnica de plantio à pleno sol – objeto de pesquisa de Maia na Unimontes – quando consorciada às tradicionais lavouras de banana que já contam com sistema de irrigação.
O modelo de produção nasce em contraposição ao cultivo “na cabruca”, no qual o cacau é cultivado em meio à Mata Atlântica raleada. À sombra da bananeira, os clones de cacau mais resistentes crescem durante dois anos, sofrendo sucessivas podas e sendo preparados para suportar a produção.
Maia explica que a aplicação da técnica traz diversos benefícios para o produtor tradicional de banana. “Do ponto de vista econômico, é vantajoso para o cacauicultor, que sempre terá uma renda. Aguardando o cacau começar a produzir, ele conta com renda da produção de banana”, explica. Além disso, a comercialização o cacau é, em relação à banana, mais rentável, considerando que a banana, por ser mais perecível, apresenta uma volatilidade de preços diferente do cacau.
Victor Maia conta que a ideia de testar técnicas de cultivo de cacau surgiu durante a participação em um congresso brasileiro de irrigação, em Montes Claros, em 2010. O pesquisador, que à época moderou a palestra de José Basílio Leite, da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), teve contato com a proposta de cultivo do cacau no Semiárido da Bahia.
“Eu disse: ‘Basílio, vamos trazer isso para Janaúba? Janaúba tem um clima árido de transição. Quem sabe gera oportunidades para a região?’ Daí nasceu a ideia do primeiro projeto”, relembra.
Em 2011, Maia coordenou um projeto aprovado na chamada Demanda Universal, da FAPEMIG, no valor aproximado de R$33,1 mil para o cultivo de clones adaptados na cidade de Janaúba. Contudo, foi surpreendido com anos seguidos de seca severa. Os clones plantados na fazenda experimental, sem irrigação, não suportaram a seca e o experimento foi perdido.
“Os fracassos nos ensinam mais que os sucessos”, reflete. Em 2014, a ideia foi retomada com a chegada do pesquisador, George Andrade Sodré, da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) ao projeto. Com recursos próprios e apoio da Unimontes e do Instituto Biofábrica, a pesquisa focou em encontrar os clones trazidos da Bahia mais adaptados à região, além de desenvolver melhores práticas de cultivo.
O primeiro passo foi a identificação dos clones mais adaptados ao clima e ao cultivo à pleno sol, com destaque para o CEPEC 2002, CCN 51, PS1319 e SJ02. A identificação foi feita no âmbito da pesquisa de doutorado de Aparecida Rodrigues de Jesus Carvalho, bolsista da FAPEMIG à época.
Em 2017, o projeto recebeu novo apoio da FAPEMIG. O aporte de aproximadamente R$46 mil contribuiu para a condução do experimento em campo por mais tempo. Naquele ano, a equipe promoveu os primeiros eventos técnicos de extensão que levaram os resultados obtidos aos produtores da região. Desde então, estes eventos técnicos específicos para tratar do cultivo do cacau no semiárido mineiro ocorrem a cada dois anos.
Maia conta que, nesta fase do projeto, o fomento de bolsas no contexto do Norte de Minas garante a fixação dos talentos. Reforça, também, a importância do fomento a eventos de extensão, que “conectam a Universidade com o mundo externo e transformam vínculos profissionais em vínculos pessoais”.

Atualmente, Maia coordena o Centro Tecnológico para Cacauicultura em Regiões Não Tradicionais (CTCRNT). No total, a FAPEMIG destinou cerca de R$ 3,5 milhões para o Centro, que envolve pesquisadores da Unimontes, da Universidade Federal de Lavras (Ufla), Universidade Federal de Viçosa (UFV) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O grupo de pesquisa tem dirigido esforços em diferentes frentes observando a influência de diferentes fatores na produção do cacau como o consumo de água irrigada, tipos de mudas e adubação. Também aplicam visão computacional na predição da produção e estudam sistemas agroflorestais que consorciam o cultivo do cacau com a macadâmia ou abacaxi.
Outras pesquisas orientam-se para o manejo da florada na busca por induzir o cacaueiro a focar na produção do fruto apenas uma vez ao ano. Maia explica que o cacau, naturalmente, floresce e frutifica ao mesmo tempo durante todo o ano. “Dessa forma, colhemos os frutos todos de uma vez, otimizando o operacional da fazenda”.
Outra frente, em parceria com a Ufla, estuda a fermentação do cacau para a produção de chocolate. Para Maia, a linha de pesquisa é promissora e pode significar o nascimento de um “terroir no Sertão”, com cacau específico com características próprias da região. Como diz o pesquisador: esse é apenas o começo.
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