A cidade de Uberaba, no Triângulo Mineiro, abriga um dos exemplos mais expressivos de como a ciência pode gerar impacto social, cultural e econômico: o Geoparque Uberaba. Membro da Rede Global de Geoparques Mundiais da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o patrimônio pode ser definido como uma área geográfica que abriga rochas e paisagens de relevância geológica internacional para proteção, educação e desenvolvimento sustentável, além de ser referência mundial no estudo paleontológico da fauna continental existente no período Cretáceo Superior (80 a 65 milhões de anos atrás).
Desde a sua fase embrionária, a iniciativa buscava valorizar o patrimônio geológico e fomentar o desenvolvimento regional. A tese de doutorado do pesquisador Luiz Carlos Ribeiro, elaborada há mais de 20 anos com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), foi o início desse sonho. Atualmente coordenado pelo geólogo e pesquisador Thiago Marinho, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), o geoparque integra preservação ambiental, pesquisa científica e turismo sustentável.

De acordo com Marinho, o geoparque é um programa de gestão territorial sustentável que promove a preservação da geodiversidade e integra a comunidade como parte essencial desse processo. “É muito fácil explicar por que temos que preservar uma floresta, o mico-leão-dourado, que são seres vivos como a gente. Mas é muito difícil justificar o porquê de proteger uma rocha, uma paisagem, um curso d’água. O programa visa justamente preservar esse patrimônio da geodiversidade, colocando a comunidade como um ator importantíssimo nessa história”.
Patrimônio histórico, turístico e científico

O geoparque abrange todo o território de Uberaba e reúne sete geossítios, áreas com valor científico, educativo e turístico, utilizadas para pesquisa, ensino e lazer. Entre elas estão locais que registram a história geológica do planeta e guardam fósseis de espécies que habitaram a região há mais de 70 milhões de anos. Ou seja, essas áreas, além de fósseis, abrigam rochas, paisagens e formações naturais ricas em história e valor cultural.
A Paleontologia é o principal eixo do geoparque, que abriga fósseis de grande relevância científica, como o Uberabatitan ribeiroi, o maior dinossauro brasileiro já encontrado no país, com mais de 27 metros de comprimento. “Nosso território é reconhecido internacionalmente pela riqueza paleontológica, especialmente na área dos grandes vertebrados fósseis. Essa vocação científica se transformou também em um motor de desenvolvimento econômico e turístico para Uberaba”, afirma Marinho.
As primeiras descobertas paleontológicas aconteceram em 1945, durante a construção do trecho de uma ferrovia no bairro de Peirópolis. O paleontólogo Llewellyn Ivor Price foi responsável pelos primeiros trabalhos na região e, por isso, o centro de pesquisas do geoparque foi batizado em sua homenagem. Novas espécies de dinossauros, crocodiliformes, parentes extintos de crocodilos e jacarés, e até pterossauros, espécie de répteis voadores, têm sido descritas por pesquisadores da UFTM e de outras instituições parceiras.
“A criação do Museu dos Dinossauros e do Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price, no início da década de 1990, foi uma iniciativa da própria comunidade, que buscava alternativas para o declínio econômico da região. Desde então, Peirópolis se tornou um polo turístico e cultural, com pousadas, restaurantes e lojas de artesanato”, explica o pesquisador.

Projeção da ciência
A integração entre ciência e sociedade é um dos diferenciais que garantem a sustentabilidade do projeto. “A pesquisa acadêmica tem um potencial enorme de alcance social. Como o geoparque integra a comunidade nesse processo, todos se beneficiam do conhecimento produzido aqui”, destaca Thiago Marinho.
Segundo ele, a FAPEMIG foi uma das instituições responsáveis por consolidar a base científica que sustenta o Geoparque Uberaba. O pesquisador explica que a Fundação financiou projetos estratégicos desde 2009, entre eles a chamada Demanda Universal de 2015, que apoiou estudos sobre a paleontologia do Triângulo Mineiro e ajudou a ampliar o acervo científico do centro de pesquisas.
“A FAPEMIG foi essencial para o desenvolvimento das nossas pesquisas. O apoio da Fundação nos permitiu fortalecer o laboratório e formar novos pesquisadores, o que mantém Minas Gerais como referência nacional em Paleontologia”, afirma Marinho.
Os investimentos em pesquisa e inovação têm efeito direto sobre o desenvolvimento regional. “Esses recursos públicos se traduzem em benefícios concretos para a sociedade, desde o avanço do conhecimento até a geração de emprego e renda”.

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