O uso de plantas para tratar doenças e enfermidades é milenar. A prática é tão importante que em 2006 foi instituído a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Projeto que propõe a ampliação das opções terapêuticas e melhoria da atenção à saúde aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Além de garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos
Em harmonia a essa iniciativa, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) criaram uma cartilha para orientar o uso de plantas medicinais da Bacia do Rio Pandeiros. A publicação é um dos diversos desdobramentos da pesquisa Potencial terapêutico e farmacológico de espécies de vegetais nativas do Rio Pandeiros. Estudo apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), por meio da Chamada - Sustentabilidade do Rio Pandeiros.
Segundo Sérgio Henrique Souza Santos, coordenador da pesquisa, o Norte de Minas Gerais, principalmente a área da Bacia do Rio Pandeiros até Montes Claros, possui uma das vegetações mais ricas, porém menos estudadas do Brasil. “Temos na região uma interseção de matas: Atlântica, Cerrado e até Caatinga. Isso associado ao clima quente e seco da região resulta em características únicas dessas plantas”, conta.
Ciente disso, os pesquisadores decidiram identificar, na sabedoria popular, quais plantas eram utilizadas pela população ribeirinha e focaram seus estudos em três espécies: Sambaibinha (Davilla elliptica), Dedaleira (Lafoensia pacari) e Unha-D’anta (Acosmium dasycarpum). “O objetivo era pesquisar se as plantas de fato eram uteis a saúde e quais são as suas reais aplicações – especialmente com foco nas doenças metabólicas”, informa o professor.
O estudo, conduzido pelo pesquisador, mostrou que as ervas realmente podem ajudar no tratamento de doenças, como obesidade e Síndrome Metabólica (casca da Unha d’anta), depressão (Dedaleira), úlceras estomacais (Dedaleira) e, até, mesmo edemas de picadas de cobras (Sambaibinha). Algumas das plantas também possuem propriedades antibacterianas, antioxidantes, anti-inflamatórias, antifúngicas, antivirais, ansiolíticas e analgésicas. Saiba quais outras enfermidades podem ser tratadas pelas plantas, e como, na cartilha produzida pela equipe (aqui).
Para Silva a publicação é importante pois permite que a comunidade faça o uso correto, com embasamento científico, dessas plantas. “Com a cartilha conseguimos resumir, de forma clara, aquilo que já se sabe cientificamente sobre essas três plantas. Assim a população pode utilizar de forma correta. Sem prejuízos para a saúde”, destaca.
O estudo contou com vários métodos para chegar a este resultado. “Primeiro coletamos informações com a população, depois pesquisamos bases de dados nacionais e internacionais para identificar pesquisas científicas já existentes e, por fim, coletamos sementes para a produção de mudas”, lembra Sérgio Santos.
Realizado junto ao Instituto Estadual de Florestas (IEF), o cultivo das mudas – para a distribuição para a comunidade – levou um ano para ser finalizado. Durante esse tempo os pesquisadores trabalharam, paralelamente, no laboratório. “Onde desenvolvemos, em modelos animais, doenças, como obesidade, diabetes, síndrome metabólica, e testamos cada uma das três plantas”.
O professor conta que a escolha pelas três se deu pela necessidade de foco. “Consideramos o tempo e recursos disponíveis no momento. Com isso percebemos que, para realmente alcançar o nosso objetivo tínhamos que dar foco em algumas dessas plantas. Então, a partir da vegetação nativa, selecionamos essas três. No entanto, isso é um primeiro passo”, ressalta.
Sérgio Santos também chama atenção ao fato de que o estudo só foi possível devido a um conjunto de parcerias. Segundo o pesquisador, a própria ideia do estudo só de deu graças a abertura da Chamada da FAPEMIG. “Com o edital específico para a região do Rio Pandeiros, pudemos focar nossos esforços e expertise em entender as necessidades dessa população: a preservação da Bacia do Rio por meio do reflorestamento e, ao mesmo tempo, entender o potencial terapêutico das plantas que já utilizam, espécies que são pouquíssimos estudadas”, conta.
Para o professor a iniciativa teve diversos ganhos. “Agora podemos inovar na parte farmacêutica da população. Também conseguimos fazer com que alunos de diferentes formações ajudassem a comunidade. Para se ter ideia em um evento comunitário que promovemos, o Dia D, tivemos vários profissionais da área da saúde aferindo a pressão e auxiliando a comunidade. O que só foi possível graças a FAPEMIG”, informa Sérgio Santos.
Além da participação da Fundação e do IEF, o estudo também contou com o apoio do Instituto de Ciências Agrárias (ICA), do programa de Mestrado em Alimentos e Saúde (ICA/UFMG) e do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros (PPGCS/Unimontes).
Foto: Sérgio Santos
Profissionais de saúde atendem a comunidade do Rio Pandeiros em Dia D
Foto: Sérgio Santos
Planta Dedaleira
Foto: Sérgio Santos
Planta Unha d'anta
Foto: Sérgio Santos
Planta Sambaibinha