Apesar de antiga a dengue ainda é um problema de saúde que requer atenção. Para se ter uma ideia, dados do Boletim Epidemiológico de Monitoramento dos casos de Dengue, Chikungunya e Zika, emitido no início desse mês, mostram, que até o momento, Minas Gerais registrou 53.089 casos de dengue só nesse ano. Além dos altos números ainda há o problema da dificuldade em diferenciar a doença de outros vírus que causam enfermidades com sintomas muito parecidos.
Segundo a pesquisadora, Alice Versiani, seu agente causador, o Aedes aegypti, circula com outros vírus bastante similares, tanto em suas partículas e proteínas quanto na resposta imunológica e nos sintomas dos infectados. “Por isso, a busca para aperfeiçoar os testes sorológicos comuns, com maior sensibilidade, é tão importante”, conta.
Com isso em mente, Versiani se juntou a um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), coordenado pelo professor Dr. Flávio Guimarães da Fonseca, para desenvolver uma tecnologia de diagnóstico mais sensível as infecções pelo vírus da dengue. O projeto de pesquisa conta com o apoio da FAPEMIG e busca evitar, com esse novo teste, a reação cruzada a outros vírus que despertam sintomas muito parecidos com a doença, como o Zika.
A pesquisadora explica que a metodologia tem grande limite de detecção, com capacidade para identificar concentrações picomolares de anticorpos. “Isso possibilita identificar a infecção pelo vírus, mesmo em casos de concentrações baixas das proteínas de defesa”, informa.
Versiani foi a primeira autora de um artigo, publicado na Scientific Reports, que apresenta os resultados do estudo. Segundo a pesquisadora, o novo sensor é relativamente simples de desenvolver e não requer outros reagentes para revelação do resultado, como geralmente é exigido por outros diagnósticos. “São testes rápidos e, por causa das propriedades óticas das nanopartículas, muito mais sensíveis que os já existentes. Esperamos, assim, conseguir, ao final do desenvolvimento, uma tecnologia barata, prática, rápida e robusta”, informa.
O nanosensor é formado de nanopartículas de ouro mais a proteína do vírus da dengue. Para o teste o grupo utilizou tanto anticorpos comerciais, quanto soros de pacientes. “Nos comerciais vimos que o sensor reconhece o anticorpo específico do vírus da dengue e que o limite de detecção da técnica era muito baixo”, informa.
Já ao testar o sensor no soro de pacientes os pesquisadores verificaram que a tecnologia, além de reconhecer anticorpos gerados pela infecção natural, foi capaz de diferenciar os anticorpos gerados pela dengue, daqueles produzidos em uma infecção causada pelo Zika. Todo esse processo de identificação baseia-se na mudança do espectro da nanopartícula: os pesquisadores emitem luz na superfície dos fragmentos de ouro para produzir uma ressonância dos elétrons. O mesmo acontece com as substancias colocadas naquela superfície alterando a ressonância.
Assim como os testes normalmente utilizados para dengue, essa nova versão é essencialmente sorológica. “Porém, poucos testes disponíveis atualmente, apesar de altamente tecnológicos, possuem tal sensibilidade e especificidade”, destaca.
A pesquisadora informa, ainda, que este estudo foi um teste de princípio da técnica, que já teve sua patente nacional e internacional depositada pela equipe. Agora, os pesquisadores pretendem escalona-la para ser realizado em um número maior. “Outro ponto importante é que um software de análise dos resultados está sendo desenvolvido para facilitar a interpretação dos dados fornecidos pelo nanosensor”, adianta Versiani.