Um novo teste sorológico para diagnosticar a presença de anticorpos contra a covid-19, realizado a partir da coleta de sangue em laboratório, está pronto para distribuição nos serviços públicos de saúde de Minas Gerais. O exame, que contou o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) para ser produzido, tem alto índice de acerto, em torno de 95%, e o resultado pode ficar pronto em até duas horas.
O conjunto de reagentes é totalmente produzido no Brasil, o que dispensa a necessidade de importação e, assim, minimiza dificuldades com falta de insumos. A estimativa é que um kit, para testagem de 90 pessoas, seja até cinco vezes mais barato do que os disponíveis no mercado.
O teste imunoenzimático, mais conhecido como Elisa, na sigla em inglês, foi desenvolvido pelo Centro de Tecnologia em Vacinas (CT-Vacinas), vinculado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Vacinas (INCT Vacinas). Com sede no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC), o centro reúne pesquisadores da UFMG e da Fiocruz Minas. A produção em larga escala ficará a cargo do Instituto Bio-Manguinhos, no Rio de Janeiro, que já liberou o primeiro lote para testes finais e a regulamentação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O teste detecta a molécula IgG, uma classe de anticorpos produzidos por indivíduos que tiveram contato com o coronavírus SARS-CoV-2 e desenvolveram imunidade. “Para que a pessoa tenha esta molécula no sangue, é preciso ter sido exposta ao antígeno viral, ou seja, a uma das proteínas do SARS-CoV-2 contra o qual esse anticorpo foi produzido. Para detectar o anticorpo por meio do teste Elisa, precisaríamos purificar essa proteína a partir do próprio vírus. Mas para não ter que fazê-lo crescer no laboratório, nós isolamos um fragmento do genoma do vírus, que tem a informação para produzir esse antígeno. Então, inserimos esse fragmento em uma bactéria que passa a produzir o antígeno viral, de maneira muito mais segura e mais barata”, detalha Santuza Teixeira. Ela integra a equipe do CT-Vacinas e atua como professora do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG.
“Este dado é importante para constatar, por exemplo, a chamada ‘imunidade de rebanho’ – quando o vírus já circulou entre determinado grupo de pessoas e um percentual suficientemente alto delas desenvolveu a resposta de anticorpos. Então, aquela curva de infecções grave e de mortes começa a diminuir”.
A pesquisadora ressalta a importância do teste, do ponto de vista da saúde pública, pela possibilidade de estimar quantas pessoas foram expostas ao vírus em determinada população, mesmo que não tenham ficado doentes. “Este dado é importante para constatar, por exemplo, a chamada ‘imunidade de rebanho’ – quando o vírus já circulou entre determinado grupo de pessoas e um percentual suficientemente alto delas desenvolveu a resposta de anticorpos. Então, aquela curva de infecções grave e de mortes começa a diminuir”, explica.
As pesquisas para o desenvolvimento do novo teste foram iniciadas a partir da demanda da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, com financiamento da RedeVírus, do Ministério da Ciência, da Tecnologia e Inovações, e da FAPEMIG, por meio do projeto Desenvolvimento de teste diagnóstico molecular e sorológico para covid-19.
Para Santuza Teixeira, o kit foi produzido em “tempo recorde” – cerca de quatro meses, o que somente foi possível porque o CT Vacinas, inaugurado em 2016, já desenvolvia testes semelhantes para outras doenças. “Isso mostra que o investimento em laboratórios tem retorno. O grupo estava preparado, não somente com pessoal treinado, como também com infraestrutura. Simplesmente utilizamos o que já funcionava aqui. Por isso conseguimos responder a uma demanda urgente em prazo muito curto”, avalia.
Texto publicado originalmente no Minas Faz Ciência. Para ver mais matérias como essa clique aqui