Pesquisadores estudam efeito do CO2 nas plantas do Cerrado

Tuany Alves - 29-10-2020
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Imagem: fotomontagem feita a partir de fotos do acervo do pesquisador

Entender os fatores que afetam as plantas é fundamental, uma vez que existem várias condições que afetam a produtiva e o bem estar do meio ambiente. Pensando nisso, pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV), campus Florestal, com o apoio da FAPEMIG, desenvolveram um estudo para entender o efeito do CO2 nas plantas do Cerrado de Minas Gerais. 

Segundo o coordenador do estudo, João Paulo de Souza, a pesquisa Respostas ecofisiológicas de plântulas de espécies lenhosas de cerrado com distintas fenologias foliares frente às mudanças climáticas globais: efeito do estresse hídrico e elevada concentração de CO2 identificou que plantas da vegetação do Cerrado, após crescer sob elevada concentração de CO2, apresentam respostas semelhantes com os de plantas de outros ecossistemas: aumento da fotossíntese líquida. “Assim como um crescimento acelerado, principalmente, após um ano de enriquecimento com CO2”, conta. 

Souza informa que para chegar a esse resultado o grupo manteve plantas do Cerrado em câmaras que apresentam uma abertura no topo, onde eles injetaram CO2. Após um ano nessas condições, os pesquisadores perceberam que as espécies apresentaram crescimento da parte aérea muito mais rápido. “Em geral, plantas lenhosas do Cerrado apresentam alocação de biomassa para a parte aérea de forma lenta, principalmente nos estágios iniciais de crescimento (seis meses a dois anos)”, explica.

Porém, esse crescimento acelerado pode influenciar consideravelmente a dinâmica desse ambiente, uma vez que o Cerrado é uma região savânica, não de floresta. “Possivelmente esse aumento de altura das árvores irá resultar em maior sombreamento das espécies herbáceas e plantas lenhosas mais jovens, o que poderá alterar a dinâmica de estabelecimento dessas espécies”, conta o pesquisador. 


CRESCIMENTO ACELERADO

Foto: Acervo do pesquisador

O CO2 é um dos gases associados ao fenômeno natural chamado efeito estufa. Segundo Souza, se considerarmos apenas a alta taxa de concentração de CO2 na atmosfera, pode se dizer que as mudanças climática serão ótimas para as plantas. Uma vez que esse gás é o seu alimento. “A planta capta o CO2, pela sua folha, e o transforma em carboidrato, ou seja, ‘açúcar’”, conta o professor.

Com isso quanto mais CO2 as plantas “ingerirem”, mais irão crescer e produzir biomassa, aumentando a espessura e tamanho do seu caule. O que a beneficia, pois assim, consegue absorver mais luz e realizar mais fotossíntese.

No entanto, chegará um momento em que o contínuo aumento do CO2 não fará mais efeito. Segundo Souza, apesar da presença do gás continuar alta no ar, chega uma hora que a planta entende que já tem muito carboidrato e começa a não responder mais a esse estimulo, não crescendo mais.

A falta de água também pode fazer a planta parar de crescer. “O aumento do CO2 no ar torna o clima mais quente e pode diminuir a quantidade de chuvas. Dessa forma, se juntarmos todos os possíveis efeitos das mudanças climáticas, “as plantas param de responder de forma positiva”, conta Souza.


BENEFÍCIOS E PERIGOS 

Segundo Souza, o CO2 é muito importante para as plantas e para toda a vida na Terra, uma vez que ele um dos responsáveis pelo efeito estufa. 

Fenômeno natural que conserva a radiação solar na Terra, esse efeito é o responsável por esquentar o planeta, possibilitando assim a existência da vida como conhecemos.  “O problema é que quanto mais gás é lançado na atmosfera, mais calor é mantido”, informa.  


CONHECER PARA AGIR

O grupo de pesquisadores vem publicando uma série de trabalhos sobre o tema desde de 2016. Além do efeito da concentração de CO2 na atmosfera, os pesquisadores também estudam a relação ecológica de competição entre as plantas nesses ambientes; Efeito da elevada concentração atmosférica de CO2 sobre o desenvolvimento de uma espécie C3 nativa e uma espécie C4 invasora de áreas de Cerrado, apoiado pelo Edital Universal 2013. Assim como o impacto da diminuição de quantidade de água no solo; Influência do aumento da concentração de CO2 no crescimento e partição de água no solo em duas espécies nativas e uma espécie invasora do Cerrado, estudo apoiado pelo Edital Universal 2016.

Segundo Souza, todas esses estudos são considerados pesquisas básicas, uma vez que foi preciso verificar primeiro quais eram os efeitos das mudanças climáticas nas plantas do Cerrado, para só assim avançar para uma etapa mais prática. “A partir dessas informações podemos, agora, avançar para um projeto aplicado em algum problema socioambiental que afeta todo a sociedade”, informa. 

Conheça mais sobre o trabalho dos pesquisadores no perfil do Instagram do Laboratório de Ecologia Funcional de Plantas - UFV/CAF (@labecofunplan)