Vigiar é preciso

Tatiana Nepomuceno - 03-04-2018
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De acordo com o Ministério da Saúde (MS), de março até junho de 2018, cerca de 312 mil alunos entre 5 e 14 anos, matriculados no ensino fundamental de 1,5 mil escolas públicas mineiras serão beneficiados com a busca ativa para diagnóstico e tratamento de casos de hanseníase e outras moléstias no Estado. A estratégia faz parte da V Campanha Nacional de Hanseníase, Verminoses, Tracoma e Esquistossomose, para diagnóstico de doenças que possuem tratamento gratuito no Sistema Único de Saúde (SUS) e conta, em paralelo, com uma importante contribuição da comunidade científica mineira, perante o enfrentamento da Hanseníase no Estado.


Trata-se da pesquisa desenvolvida na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), coordenada por Francisco Carlos Lana. O pesquisador analisou a distribuição espacial e epidemiológica da hanseníase, e a resposta a testes sorológicos para o bacilo causador da doença no município de Almenara, Vale do Jequitinhonha, entre 2006 e 2010. O objetivo foi propor formas de prevenção e controle da enfermidade, em especial nos serviços da Atenção Primária à Saúde (APS). “Queríamos minimizar a realização de tratamentos inadequados por erros na classificação operacional, baseada na contagem de número de lesões, e no exame de baciloscopia, priorizando a distribuição dos recursos públicos”, explica.


Para tal, o estudo foi feito em duas etapas. Na primeira, os pesquisadores avaliaram os resultados do teste rápido para a Mycobacterium leprae (ML Flow), nos casos notificados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). A partir desses resultados, evidenciou-se a importância da realização de outros estudos sorológicos para avaliar a evolução da infecção e a manifestação clínica da enfermidade nos doentes e contatos. “Nesta etapa foram utilizados testes, com três antígenos, feito o comparativo clínico e observado que a avaliação de mais de uma molécula e de seus resultados, de forma combinada, potencializa determinar a classificação operacional e o acompanhar o tratamento dos casos, além de identificar potenciais contatos domiciliares com risco de adoecimento”, explica.


Outros desdobramentos

O estudo também foi conduzido nas cidades de Betim, Lagoa Santa e Belo Horizonte e cada localidade apresentou desdobramentos diferentes e especificidades. “Os profissionais da atenção primária de Betim, por exemplo, consideraram que o serviço de atendimento possui fragilidades no acesso, o que justifica a dificuldade de integrar as ações de hanseníase nas Equipes de Saúde da Família”, comenta. Em relação ao município de Lagoa Santa, os estudos evidenciaram que o desempenho da atenção primária é melhor do que o desempenho para as ações específicas no controle da doença.


Já em Belo Horizonte, onde foi avaliada a distribuição espacial da hanseníase, a pesquisa mostrou que a espacialização dos casos ocorre de forma heterogênea. Os dados apontaram setores censitários, inclusive, com taxas superiores à detecção encontrada para o município. “As evidências oferecidas por este estudo mostram a necessidade de se intensificar medidas que visem à melhora das condições de vida da população, pois a hanseníase, em Belo Horizonte, está diante de um padrão construído sob a marca de iniquidades, como atesta sua relação com Índice de Vulnerabilidade da Saúde (IVS-BH)”, finaliza Lana.