Referência nos índices da indústria e da economia mineira, o leite é um alimento nutritivo e fonte de elementos importantes para a saúde humana, como o cálcio e a lactose. Gerando ganhos e impulsionando os setores econômicos do Estado, dentre eles o agronegócio, Minas Gerais atualmente é o maior produtor de leite do Brasil. Todavia, antes de chegar na mesa do consumidor, o leite requer testes de qualidade. Por ser um alimento perecível, ou seja, alimento que perde a qualidade após um determinado período de tempo independente dos seus suprimentos, o leite torna-se vulnerável à adulteração. Esta prática, considerada comum para recuperar as aparências ou as propriedades do alimento, ocorre de diversas maneiras, podendo ser feita pela adição de água insalubre, soda cáustica, soro, formol, sais, dentre outras substâncias inadequadas para o consumo.
Nesse sentido, caso haja a suspeita de que o leite esteja alterado ou fora da validade, são necessários métodos e técnicas para o processo de triagem do alimento e, consequentemente, para o estágio de testagem final. A professora titular do departamento de Física da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Maria José Valenzuela Bell, explica que “para Minas Gerais, é muito importante a criação de metodologias para a análise da qualidade do leite, pois, se o leite apresenta problemas, os derivados (laticínios) também se comprometem, principalmente o queijo, outro alimento de referência para a indústria alimentícia do Estado”.
Com o objetivo de identificar as possíveis alterações sofridas pelo leite e seus derivados de forma rápida, um grupo de pesquisadores da UFJF coordenado por Maria José desenvolveu um método de análise inovador. “Para sanarmos o problema de pesquisa e evitarmos prejuízos maiores, pensamos em um método de análise eficaz a ser realizado antes do leite ser armazenado em tanques de grande volume", diz ela. A pesquisadora explique que, em tanques comunitários, por exemplo, locais em que vários produtores rurais depositam quantidades variadas de leite, é interessante aplicar a testagem previamente, em pequenas amostras e de diferentes procedências, antes do leite ser direcionado ao tanque coletivo. "Este processo evita a mistura do leite adequado para o consumo com o leite que possui substâncias inadequadas".
O aparelho é resultado de cerca de 10 anos de estudos sobre o tema, e agora passa pelo processo de transferência de tecnologia. A equipe desenvolveu o equipamento portátil específico para a testagem do leite e de laticínios com o intuito de levá-lo para o campo, trazendo como diferencial a possibilidade de utilização por pequenos e médios produtores. Hoje, testagens com a finalidade de identificar fraudes são rotina, na maior parte das vezes, em grandes empresas e em grande escala. Por isso, a inovação tem a finalidade de beneficiar, sobretudo, os produtores de menor porte.
Maria José e Wesley William, da UFJF, pesquisadores responsáveis pela iniciativa (Foto: arquivo pessoal)
Impactos para Minas Gerais
Considerando aos impactos para a sociedade, Maria José salienta que desenvolver estudos com essa temática é uma prática bastante relevante para Minas Gerais, devido principalmente à importância econômica da produção de leite e laticínios. “Aproximadamente um terço do leite nacional é produzido pelo Estado de Minas Gerais. O que as fontes de fomento em Minas puderem fazer para auxiliar as pesquisas relacionadas à avaliação da qualidade do leite para evitar prejuízos maiores para indústria, para o produtor rural e para o consumidor, certamente trará impactos positivos tanto para a ciência quanto para a economia”.
Primeira patente concedida da UFJF
A patente intitulada “Equipamento e Método para Identificar Adulteração no Leite e Similares”, registrada junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), é a primeira patente de invenção concedida pelo órgão à UFJF e está disponível na Vitrine Tecnológica. Em suas atribuições, a tecnologia soluciona o problema de identificar a adulteração no leite e similares. Sua solução apresenta estruturas compactas que contém unidades de medição de condutividade: alternada e contínua, ambas conectadas a um microcontrolador. A partir disso, a invenção descreve um método que compreende as etapas de mensurar a corrente alternada da amostra de leite em sua unidade, a fim de detectar substâncias iônicas. Se o valor aferido desse procedimento for compatível com o valor padrão de condutividade alternada do leite em análise, a amostra segue para a unidade de medição da condutividade contínua para detectar a presença de água e/ou outros elementos no leite em análise. Com o potencial de aplicação direcionada para a indústria de laticínios, e já incorporada comercialmente, o sistema ganhou o nome de Milk Tech.
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