Há 230 milhões de anos atrás, quando Minas Gerais ou Brasil sequer existiam como entendemos hoje, surgiam as primeiras espécies de dinossauros da Terra. Eles foram os principais predadores e consumidores de matéria vegetal no período Mesozoico e por isso tão importantes para a história geológica, evolutiva e ecológica da Terra durante milhares de anos.
A pesquisa “A Origem E Irradiação Dos Dinossauros No Triássico Brasileiro: Aspectos Paleoecológicos, Biomecânicos E Paleobiogeográficos” apoiada pela FAPEMIG desenvolveu análises das coleções de alguns dos mais antigos fósseis da história. O professor do Departamento de Geologia, Jonathas S. Bittencourt, participante deste processo, explica que o trabalho uniu em colaboração não oficial grupos de referência do Rio Grande do Sul, da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadores internacionais como Max Langer (USP), Júlio Marsola (USP), Atila da Rosa (UFSM), Cecília Apaldetti (Universidade Nacional de San Juan, Argentina), Richard Butler (Universidade de Birmingham, Inglaterra), Oliver Rauhut (Ludwig-Maximilians - Universidade de Munique, Alemanha), Mário Bronzati (Coleção do Estado da Baviera para Paleontologia e Geologia, Alemanha) e Juliana Sayão (UFPE).
Desenvolvida no Laboratório de Paleontologia e Macroevolução, ligado ao Centro de Pesquisa Professor Manoel Teixeira da Costa (CPMTC), complementar ao Instituto de Geociências da UFMG, a pesquisa tem como objetivo reconstituir o ambiente, evolução e hábitos dos dinossauros no nosso território. “São os dinossauros mais antigos do mundo! É a aurora dos dinossauros na Terra”, destaca Jonathas.
EVOLUÇÃO DO PLANO CORPORAL
A coleção foi encontrada no estado do Rio Grande do Sul, em rochas localizadas perto da cidade de Santa Maria. Um dos últimos artigos ainda em desenvolvimento sobre este projeto busca compreender a evolução do “plano corporal” dos primeiros dinossauros que viveram na Terra no período Triássico. Segundo o professor Jonathas Bittencourt, os primeiros dinossauros eram pequenos em relação às espécies que os sucederam. Atualmente, um grupo de estudos, ao qual faz parte, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estuda um ancestral com cerca de 1,5 metro de comprimento, dos gigantescos saurópodes que chegavam a medir 40 metros de comprimento. “A ideia é estudar as modificações do esqueleto que levaram esses bichos a ficarem tão grandes”.
HÁBITOS ALIMENTARES
Observou-se que os primeiros dinossauros do país, encontrados da Bacia do Paraná no Sul, já poderiam ser carnívoros diferente do que se acreditava “Antigamente achava-se que esses animais tinham hábito mais herbívoro, mas vimos pelo seu cérebro e depois correlacionamos com as características do esqueleto que estes bichos poderiam ser caçadores de emboscada”, revela.
Confira o Pitch ilustrado por Rodolfo Nogueira
MINAS DOS FÓSSEIS
Segundo Jonathas, Minas Gerais é uma das áreas mais importantes do Brasil na descoberta de novos fósseis por conter uma grande área de bacias sedimentares e cavernas. As bacias sedimentares são áreas mais baixas no relevo no continente ou no mar, onde por bilhões de anos foram acumulados sedimentos, areia, argila, pedras maiores, inclusive, animais e plantas mortos que são trazidos pelo vento e rios. Por isso, são locais em que, geralmente, há maior probabilidade de encontrar fósseis.
O professor explica que o Brasil é extremamente rico em bacias sedimentares e que foi encontrada em Minas Gerais a mais antiga evidência de vida no país, “Aqui temos rochas mais de 2 bilhões de anos, no quadrilátero ferrífero na região central”. Já as cavernas mineiras são importantes, pois são consideradas depósitos fossilíferos e preservam fósseis um pouco mais recentes que os dinossauros.
NOVAS ESPÉCIES DO CRETÁCEO
Nos últimos anos, o projeto focou em analisar fósseis encontrados na região norte de Minas, na Bacia Sanfranciscana. Desta vez pertencentes à um período geológico mais recente, cerca de 100 milhões de anos depois chamado Cretáceo. A análise de espécie deste período é importante para compreender a evolução paleoambiental da Era Mesozoica Brasileira.
Segundo o especialista, “O objetivo é dar um quadro da evolução dos repteis na América do Sul e no Brasil, especificamente.” Neste trabalho, por exemplo, a equipe descobriu
o lagarto mais antigo da América do Sul, o Neokotus sanfranciscanus. Este fato permitiu a compreender que a fauna deste período era mais generalizada e menos endêmica, como é a biodiversidade hoje. O artigo foi divulgado da Revista
Communications Biology.
Neokotus Sanfranciscano Arte: Ilustração/ Jorge Blanco
Ainda na Bacia SanFranciscana foi encontrado o primeiro e mais completo fóssil de anelídeo do Brasil de corpo inteiro. Este grupo de animais é muito importante para a reconstrução dos ambientes, pois dão indicações das características destes espaços no passado. “O fóssil que nós encontramos é parecido com anelídeos de água doce, dando então a indicação de que o ambiente que estamos estudando era de fato um lago de água doce”, explica, o professor.
A imagem da esquerda é uma visão através de uma lupa e a da direita por meio de microscópio eletrônico de varredura. A escala tem apenas 1 mm.
Foto: Jonathas S. Bittencourt /UFMG
MEMÓRIA E PERTENCIMENTO
Conhecer e preservar sítios arqueológicos faz parte de um reconhecimento histórico e cultural. Para Jonathas, refletir sobre sua própria jornada como espécie reconhecendo o trajeto dos nossos antepassados faz parte da capacidade de auto cognição do ser humano. Algo que supera o ponto de vista acadêmico e científico especialmente para povos do Norte de Minas, Triângulo Mineiro e Região Central.
“Existe também uma questão que é bastante relevante que é a sensação de pertencimento aos lugares - a criação de uma memória cultural e afetiva”.