Ora-pro-nóbis ou Iobrobrô é uma espécie de planta perene nativa do Brasil. Há relatos de que a planta – cujo nome em latim significa “rogai por nós” - foi introduzida na alimentação pelos escravos africanos que a cultivavam em áreas menos produtivas das fazendas, como alternativa de alimento. A partir daí, tornou-se elemento tradicional na culinária mineira, sendo o ingrediente principal do guisado com angu. A riqueza de nutrientes e a pluralidade de usos incentiva iniciativas que promovem a sua produção, consumo e comercialização. Esse é o caso do projeto de extensão coordenado pela pesquisadora Maria Regina de Souza da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig).
Maria Regina estuda as Plantas Comestíveis Não Convencionais (PANCs), grupo que reúne, além do ora-pro-nóbis, hortaliças como a araruta, a azedinha, a jurubeba e a taioba. Elas têm em comum o fato de estarem presentes em determinadas localidades ou regiões e exercerem grande influência na alimentação de populações tradicionais. De acordo com cartilha sobre o tema lançada pela Epamig (que pode ser acessada aqui), as PANCs são plantas que, em algum momento, foram largamente consumidas pela população, mas que devido a mudanças no comportamento alimentar, passaram a ter expressões econômica e social reduzidas, perdendo espaço e mercado para outras hortaliças.
Segundo Maria Regina, as PANCs são alternativas importantes pela grande diversidade de nutrientes. "Muitas vezes, você vai à farmácia em busca de vitaminas C ou D, mas se manter uma alimentação equilibrada e diversificada, esses nutrientes podem ser obtidos por meio dos alimentos", explica. A pesquisadora dedica-se ao resgate das plantas tradicionais e iniciou, em 2008, um trabalho pioneiro com o cultivo do ora-pro-nóbis.
Ela explica que, atualmente, o objetivo do trabalho com os produtores tem sido incentivar o cultivo organizado e regular das PANCs com finalidade comercial. “As PANCs são muito vigorosas, muitas vezes dominam os espaços, por isso, podem ser chamadas de daninhas, invasoras. É necessário fazer podas e controlar esse crescimento para evitar invasões”. Maria Regina conta que a ideia é mudar a mentalidade em relação às PANCs e, consequentemente, ao ora-pro-nóbis, observando seu verdadeiro potencial. "Ao invés de um 'mato de comer', queremos mostrá-lo como um alimento com altos teores nutritivos e componentes funcionais como o ômega-3", enfatiza.