O sistema desenvolvido na Universidade Federal de Alfenas (Unifal) auxilia no registro dos dados necessários para garantir a rastreabilidade da cachaça, um dos critérios para a regulamentação do produto
Estima-se que a primeira destilação da cachaça no Brasil tenha acontecido há mais de 500 anos, entre 1516 e 1532 – antes mesmo da tequila e do rum nas Américas. O processo tradicional de fabricação, em alambique, da Cachaça de Minas é declarada, por lei, Patrimônio Cultural de Minas Gerais, desde 2007. Segundo dados do
Anuário da Cachaça 2021, publicação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) com foco nos estabelecimentos produtores da bebida, Minas Gerais aparece em primeiro lugar em número de produtores (353 estabelecimentos), seguido de São Paulo (143) e Espírito Santos (64). Ainda segundo dados do Anuário, em número de registro de produtos, Minas Gerais aparece novamente na primeira posição (1.778 produtos registrados), seguido de São Paulo (738) e Rio de Janeiro (464 produtos registrados). Em relação aos estados que mais exportam cachaça, MG é o segundo estado (em valor / 2022) e o quinto (em volume / 2022), de acordo com
Comex Stat.
Neste contexto, pesquisadores da
Universidade Federal de Alfenas (Unifal) desenvolveram um programa de computador que auxilia pequenos produtores de cachaça artesanal na regulamentação do seu produto. O sistema foi desenvolvido pela professora e pesquisadora da Unifal, Izabella Carneiro Bastos e o, então, aluno de mestrado Felipe Zauli da Silva em parceria com um pequeno produtor da região, responsável pela Cachaça Caminhos Gerais. A tecnologia nomeada Sistema de Gestão de Cachaças Artesanais teve o registro concedido junto ao Instituto Nacional da Proteção Industrial (INPI) com apoio da FAPEMIG.
Cachaça Caminhos Gerais registrada com auxilio do programa desenvolvido pela Unifal Créditos: Izabella Bastos/Unifal
Segundo Izabella Carneiro Bastos, considerando o número significativo de pequenos produtores de cachaça no Estado de Minas Gerais, o objetivo do programa é auxiliá-los a cumprir com os requisitos de produção de cachaça artesanal de acordo com as normas do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), auxiliando o pequeno produtor em todo o procedimento.
Parte dos requisitos necessários para a certificação de um alambique que produz cachaça artesanal está na documentação das informações de produção de forma que seja possível garantir a consulta das condições e configurações dos equipamentos e materiais para rastreabilidade dos produtos. “O programa tem como finalidade gerar um banco de dados com as informações relacionadas com a produção de cachaça”, explica Bastos.
Ela conta que a principal vantagem do programa está na simplicidade de operação, versatilidade para ser executado em qualquer computador que possua o pacote Office e, principalmente, a especificidade e aplicabilidade para o qual foi desenvolvido, ou seja, programa específico para controle e registro de processo de produção de cachaça artesanal em alambiques.
SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO
O programa também apresenta funções que garantem o sigilo de informações. Bastos conta que apenas usuários cadastrados podem acessar as funções de inserção/registo, consultar informações já inseridas, e ter acesso aos formulários para impressão, além de permitir o cadastro de novos usuários. A função de proteção de acesso para usuários não cadastrados induz o usuário sem permissão a ter que sair do programa, não podendo visualizar ou retirar informações.
“O programa pode ser utilizado para fins educacionais tanto em aspectos práticos da aplicação direta dos recursos e consequente gerenciamento de produção, bem como explorar a lógica desenvolvida na programação (área de Engenharia)”, conta. “Comercialmente, o programa possui potencial para atender pequenos produtores que não têm condições financeiras/técnicas para aquisição de ferramentas de rastreabilidade de produção, conferindo robustez ao alambique produtor da cachaça”, exemplifica Bastos.