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Inovação
Publicado em 02 de set. de 2025 · Atualizado em 10 de set. de 2025 · Leitura: 5 min
por Bárbara Melo

A pandemia de covid-19 evidenciou a baixa autonomia brasileira no desenvolvimento e produção de medicamentos, biofármacos e vacinas. Foi dentro deste cenário que nasceu, em 2022, a Unidade Embrapii FarmaVax, unindo de forma singular quatro Centros de Tecnologia (CTs) já consolidados: Vacinas, Terapias Avançadas e Inovadoras, Nanobiomateriais e Medicina Molecular.

O trabalho em conjunto atua como ponte em toda a cadeia de desenvolvimento, desde a bancada das universidades até os ensaios clínicos nos laboratórios e a interação com indústrias farmacêuticas. Sediada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a unidade é coordenada pelo professor do departamento de Química, Ruben Dario Sinisterra, e teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) desde o início.

“Temos ciência de ponta, mas ainda precisamos consolidar os processos de inovação para que os resultados cheguem de fato à população. A ciência brasileira é de destaque internacional, no entanto, quando a gente fala em inovação, ainda precisamos continuar trabalhando para que os processos possam chegar ao mercado”, explica Sinisterra.

Base sólida e recursos amplos

Em três anos de criação, a FarmaVax já executou cerca de R$ 15 milhões em projetos de pesquisa, sendo oito em andamento e três concluídos. Destes, dois tiveram pedidos de patentes em cotitularidade com empresas mineiras. “Não começamos do zero. A experiência acumulada é o que nos permite caminhar rápido. Antes, aprovar um projeto podia levar quase um ano; agora, conseguimos iniciar as atividades em até 40 dias”, explica o professor. Embora a unidade seja nova, os CTs já acumulam anos de experiência com pesquisa básica e aplicada.

Créditos: Bárbara Melo/FAPEMIG

Os quatro centros de tecnologia possuem mais de 1.200 artigos científicos publicados, 374 patentes e R$ 65 milhões em projetos. Hoje, cerca de 70 pesquisadores de alto nível, entre professores, pós-doutores e estudantes, participam das iniciativas, usufruindo de infraestrutura que inclui desde plataformas de formulação de medicamentos até ambulatórios e laboratórios.

Essa junção em Unidade Embrapii ainda fortaleceu e impulsionou o financiamento de pesquisas possibilitando a obtenção de financiamento em diferentes frentes: por meio da própria Embrapii e das empresas; por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES); do Sebrae; e por meio de chamadas de fomento da FAPEMIG.

A FAPEMIG tem sido fulcral para nossa existência. Foi ela que garantiu a manutenção da equipe administrativa e dos pós-doutores bilíngues, capazes de dialogar tanto com a academia quanto com a indústria”, destaca Ruben. Recentemente, a FarmaVax foi contemplada em nova chamada da FAPEMIG, com cerca de R$ 1,5 milhão em recursos para a aquisição de equipamentos.

Outro avanço foi a integração com a chamada Compete Minas, que possibilita que empresas beneficiadas pelos editais da FAPEMIG multipliquem os recursos recebidos ao desenvolver projetos em parceria com as Unidades Embrapii. “É um processo ganha-ganha: a empresa investe, a FAPEMIG aporta recursos e a Embrapii complementa. Assim, conseguimos transformar R$ 100 mil em um projeto de quase R$ 1 milhão”, explica o professor.

Transposição da bancada ao mercado

A fita adesiva “Stop Virus” é uma das tecnologias que foram desenvolvidas e transferidas para o mercado em apenas oito meses devido ao acúmulo de conhecimento da universidade.
Créditos: Bárbara Melo/FAPEMIG

Com aporte financeiro e estratégia de gestão, a FarmaVax consegue alinhar o rigor científico com a agilidade demandada pela indústria. “Nós formamos profissionais capazes de falar a língua do laboratório e a língua da empresa. É isso que garante que a inovação não pare na bancada, mas chegue ao mercado”, observa Sinisterra.

Um dos projetos de grande impacto foi liderado pelo virologista Flávio Guimarães da Fonseca, também professor da UFMG, que desenvolveu, em parceria com a empresa Visiongen, um anticorpo monoclonal para diferenciar tipos de leite. O objetivo era criar um teste rápido capaz de identificar se o leite é do tipo A1 ou A2, sendo o A1 associado a desconfortos digestivos em pessoas sensíveis. O projeto rendeu um pedido de patente e tem potencial de impacto internacional, com interesse de países como Índia e Turquia.

A tecnologia do anticorpo monoclonal ainda pode ser adaptada, de forma extremamente eficaz, para tratamento de câncer e doenças autoimunes, porém o seu custo é alto. “Um tratamento baseado em anticorpo monoclonal pode custar até R$ 42 mil. Se conseguirmos desenvolver essas terapias aqui, o preço cai, e elas se tornam acessíveis para a população brasileira. É saúde e, ao mesmo tempo, economia para o país”, explica Ruben Sinisterra.

Outra frente da FarmaVax é adaptar tecnologias elaboradas em ambiente laboratorial para ambientes industriais. Atualmente, a unidade trabalha na adaptação de uma patente de um medicamento desenvolvido na universidade em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) para uma grande indústria farmacêutica mineira.

“Nosso papel é fazer a translação da academia para o mercado. Adaptamos a patente, desenvolvemos o produto, realizamos testes físico-químicos, in vitro e em animais, até que ele possa ser submetido à Anvisa. É um processo longo, mas essencial para que a inovação chegue ao consumidor final”, afirma Iara Borges, pós-doutoranda e pesquisadora da FarmaVax.

O processo de adaptação de uma patente para o mercado é minucioso e delicado, uma vez que o processo de escalonamento da tecnologia mexe com a quantidades. “Nós fazemos o processo de escalonamento passando da escala de miligramas, mililitros, para litros, quilos. E esse processo de translação da bancada da pequena escala para a grande escala requer bastante habilidade, porque as coisas mudam quando a gente muda de equipamento, quando a gente muda as quantidades. O processo precisa ser adequado para partir de miligramas e passar para o quilo”, completa a pesquisadora.

“Ao desenvolvermos nossos próprios fármacos, biofármacos e vacinas, não só ganhamos autonomia tecnológica como também geramos empregos qualificados, fortalecemos empresas brasileiras e garantimos acesso mais justo à saúde”, afirma Ruben Sinisterra.

Para ele, o caminho é claro: unir esforços de universidades, empresas e agências de fomento. “Temos talento, infraestrutura e ideias. O que precisamos é acreditar e combinar políticas públicas de forma inteligente. Esse é o caminho para que o Brasil seja protagonista também na área farmacêutica”, completa.

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