UFU MC 1808: uma cultivar resistente a pragas

Júlia Pinheiro - 23-02-2023
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O melhoramento genético de plantas pode ser motivado por uma série de fatores: necessidade de adaptação climática para determinada região; ampliação do cultivo orgânico; nutrição e incremento na produtividade. No caso da UFU MC 1808, cultivar de tomate santa cruz (Solanum lycopersicum L.) desenvolvida pelo Grupo de Melhoramento Genético de Hortaliças (GEN-HORT) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), o foco foi a resistência a pragas.

Segundo o coordenador da equipe responsável pelo projeto, Gabriel Mascarenhas, professor do Instituto de Ciências Agrárias (ICIAG) da UFU, os processos de pesquisa e de melhoramento começaram com o cruzamento entre uma planta comum e uma planta silvestre. Para tal, foi realizado o método de melhoramento genealógico e retrocruzamentos.

Ao longo dos anos de estudo, Mascarenhas foi descobrindo as melhores formas de adaptar a nova cultivar ao clima do Brasil, de contribuir para o mercado de sementes orgânicas e de prevenir pragas. Uma vez que o tomateiro comercial não apresentava resistência a pragas, consequência que leva o produtor a utilizar inseticidas, a equipe de Mascarenhas recorreu a uma planta silvestre, fora do padrão comercial, e realizou um cruzamento interespecífico. O termo “interespecífico” se aplica ao cruzamento entre plantas de espécies distintas: no caso da UFU MC 1808 houve o cruzamento entre uma planta comercial e uma planta silvestre.

Durante o processo de cruzamento com a planta silvestre, foi possível inserir a resistência a pragas e resgatar as características perdidas da planta comercial. Assim, a equipe de Mascarenhas chegou a uma planta rica em acilaçúcar, um inseticida natural, favorável para o combate a pragas. Mascarenhas conta que a condição do tomateiro comercial exigiu um modo de domesticação da planta, no qual resultou em plantas produtivas, porém vulneráveis ao ataque de pragas. “Devido ao modo de domesticação, houve estreitamento da base genética do tomateiro. Uma forma de resgatar características perdidas ao longo da domesticação é a partir do uso de parental silvestre.”

Fonte: arquivo pessoal.

Resistente a pragas

Segundo Mascarenhas, é raro encontrar cultivar de tomateiro, resistente a pragas, para uso direto pelo produtor rural. A cultivar UFU MC 1808, melhorada geneticamente, é tropicalizada, possui um espectro de resistência a traças, moscas brancas e ácaros. Por isso, não requer a utilização de inseticidas por parte de quem a cultiva, reduzindo o custo de manutenção do plantio dos produtores. “Além de permitir o cultivo sem o uso de defensivos agrícolas, há uma relativa economia de energia e contenção de riscos para o produtor rural, pois, a quantidade de pulverizações durante o cultivo é reduzida”, afirma o pesquisador.

Genética tropical 

Grande parte das cultivares de hortaliças vindas do exterior são oriundas de países de clima temperado. Consequentemente, este fator reflete na dificuldade de adaptação das plantas a regiões tropicais. Segundo Mascarenhas, o germoplasma de cultivares de hortaliças da UFU é considerado “tropicalizado” justamente para corresponder a demanda de plantio no território brasileiro, que possui clima tropical. Ele reforça que “o agronegócio brasileiro precisa de cultivares tropicalizadas”.

Para desenvolver o projeto, Mascarenhas contou com o apoio da FAPEMIG em diferentes etapas. Foi beneficiado na chamada Universal e também obteve auxílio para registro da nova cultivar. A UFU MC 1808 está registrada pelo Registro Nacional de Cultivares (RNC). Mascarenhas finaliza salientando a importância do desenvolvimento de novas cultivares para o mercado de sementes no Estado. “Primeiro é preciso iniciar um programa de melhoramento genético, pensando em demandas futuras. Obter linhagens e registrar a cultivar. O mercado de sementes é muito exigente e a cultura é de risco.”.

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